8 em cada 10 dizem que cresceu nº de crianças usando álcool e drogas em SP

Outros 76% percebem crescimento desse público pedindo dinheiro e 73% relatam ter subido o número deles morando na rua

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Por Juliana Diógenes
Atualização:

SÃO PAULO - Na percepção da maioria dos moradores de São Paulo, a cidade hoje tem mais crianças e adolescentes usando álcool e drogas, pedindo dinheiro e morando na rua do que no ano passado.

Metade dos paulistanos percebe um aumento no número de crianças e adolescentes trabalhando Foto: KEINY ANDRADE/ESTADÃO

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Para 82% dos residentes da cidade, aumentou o número de crianças e adolescentes consumindo drogas e álcool. Outros 76% percebem crescimento desse público pedindo dinheiro e 73% relatam ter subido o número de crianças e adolescentes moradores de rua. Metade (51%) tem visto mais deles trabalhando.

Na semana em que se comemora o Dia das Crianças, a Rede Nossa São Paulo divulgou números da pesquisa Viver em São Paulo com foco nos pequenos. Foram entrevistadas 800 pessoas entre os dias 15 de agosto e 3 de setembro no município de São Paulo. 

Segundo Américo Sampaio, gestor de projetos da Rede Nossa São Paulo, o resultado sobre percepção de aumento do consumo de álcool e drogas não deixa claro se as crianças e adolescentes são aquelas em situação de vulnerabilidade social ou as que têm bebido e usado drogas em festas na rua, como pancadões e eventos da classe média. 

"Fato é que oito em cada dez paulistanos falam que isso está aumentando. Isso mostra que as pessoas estão olhando com preocupação em relação à exposição ao uso de álcool e drogas. O paulistano está altamente preocupado com essa situação e respondendo por uma perspectiva bastante pessimista. Percebe que está aumentando muito, mas a impressão que passa é que o paulistano não vê saída ou alternativa ao problema", afirma.

Pensando no uso que crianças e adolescentes fazem dos espaços públicos, a qualidade de centros culturais e bibliotecas tem melhor avaliação, enquanto parquinhos públicos a pior.

Na avaliação do estudo, o resultado mostra que “numa cidade em que a maioria das crianças e adolescentes faz uso de ensino público, é preciso que o município esteja pronto para atendê-los de forma adequada no âmbitos educacional e cultural.”

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"Há um problema de oferta. Esses equipamentos estão todos concentrados na região central. E há um problema de manutenção em especial nos quipamentos mais abertos. Se a criança fosse priorizada, esses parquinhos seriam os primeiros a ter a manutenção garantida", afirma.

Para 41% dos entrevistados, os parquinhos públicos foram classificados como ruins ou péssimos. Já as quadras poliesportivas foram avaliadas como negativas por 32% - praças e parques, por 33%. 

"É preciso que se pense com bastante seriedade quais são as políticas de acesso alternativas, as oportunidades culturais, educacionais, de emprego e renda. Como essas crianças que têm consumido mais álcool e drogas, têm morado na rua, têm trabalhado, conseguem acesso a outros tipos de atividade que não essas?", questiona o gestor. 

De acordo com o levantamento, a maioria das crianças e dos adolescentes em São Paulo estuda na rede pública de ensino: 71%. Outros 21% estão matriculados em escola particular.

Mapa da desigualdade

Na opinião de Sampaio, há um problema de distribuição dos equipamentos públicos.

O Mapa da Desigualdade da Rede Nossa São Paulo revela que, dos 96 distritos, 37 não têm nenhum exemplar de livro infanto-juvenil disponível em bibliotecas públicas.

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Além disso, 53 distritos não têm nenhum centro cultural ou casa de cultura e outros 43 não dispõem de teatro.

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Procurada, a Prefeitura de São Paulo informou que busca continuamente elaborar políticas públicas para garantir os direitos da criança e do adolescente. "É importante destacar que a pesquisa trata da percepção de pessoas e não traz dados objetivos sobre as ações da Prefeitura", informou a gestão, em nota.

A administração municipal informou ainda que a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) realiza um trabalho de proteção social para promover a inclusão de todas as crianças, principalmente aquelas em situação de vulnerabilidade.

"As portas de entrada são os 54 Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e os 30 Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS), que podem encaminhar para os 835 serviços voltados às crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade, que dispõem de 103.343 vagas, todas elas ocupadas."

A Prefeitura disse que a SMADS "realiza busca ativa, diariamente, pelos orientadores socioeducativos que circulam nos distritos para identificar e encaminhar crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil para a Rede Direta - CREAS para acompanhamento das famílias e para a rede conveniada". 

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