25 de janeiro de 1554

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Por Antonio Penteado Mendonça
Atualização:

Com base em documentos históricos, a cidade de São Paulo não foi fundada em 25 de janeiro de 1554. Com base em interesses dos mais variados setores, a data oficial da fundação de São Paulo passou a ser 25 de janeiro de 1554.

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Também com base nos documentos portugueses, São Paulo não foi fundada pelo Padre José de Anchieta, que naquele ano não era padre, mas irmão da Companhia de Jesus. Ele só seria ordenado padre alguns anos depois. O homem do momento era o Provincial dos Jesuítas, padre Manuel da Nóbrega, que, podendo estar presente no dia 25 de janeiro de 1554, em vez de assistir à missa solene pela inauguração do colégio dos jesuítas em Piratininga, estava percorrendo o caminho do Peabiru, na altura de Itu. Se houvesse a ideia da fundação de uma vila, o responsável pela construção do colégio com certeza comandaria a solenidade.

Além disso, quem, por ordem de Nóbrega, se mudou para os Campos de Piratininga, trazendo consigo os jesuítas instalados na Vila de Santo André da Borda do Campo desde agosto de 1553, foi o padre Leonardo Nunes. Anchieta era um deles.

Os portugueses habitavam o Planalto desde antes de 1520. O responsável pela subida da serra e a transferência de alguns brancos para longe do litoral foi João Ramalho. O que os motivou foi uma parceria com os índios tupis que habitavam a região para aprisionar índios de outras tribos e os levar para a Ilha de São Vicente, onde eram vendidos para repor as tripulações dizimadas pela travessia do Oceano Atlântico dos navios que aportavam por lá.

O negócio era tão bom que, até 1532, a povoação que viria a se transformar na Vila de São Vicente era chamada de Porto dos Escravos, sendo conhecida dos navegantes europeus desde antes da viagem de Fernão de Magalhães, que lá aportou para reabastecer os navios de sua frota.

Documentos da época mostram que a maior receita da "Fazenda Real Portuguesa", no Brasil do século 16, foi gerada pela venda dos índios escravizados na Capitania de São Vicente.

Se alguém deveria receber as honras e a glória de haver fundado São Paulo, é João Ramalho. Graças a ele, o Planalto de Piratininga foi visitado, em 1532, por Martim Afonso de Souza e, em 1553, pelo padre Manuel da Nóbrega, figuras fundamentais para a ocupação da região pelos europeus.

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Também merece homenagem o cacique Tibiriçá, o chefe tupi que comandava grande número de índios guerreiros e que era sócio e sogro de João Ramalho, que vivia com sua filha Bartira.

Acontece que a cidade de São Paulo não foi fundada. Ao contrário, ela é a consolidação da ocupação dos Campos de Piratininga pelos europeus, numa obra coletiva, que evolui no tempo até a criação da Vila de São Paulo de Piratininga, em 1560.

Em 1532, levado por João Ramalho, Martim Afonso de Souza subiu a Serra de Paranapiacaba e encontrou do outro lado, além da taba tupi, campos férteis e rios que corriam para o interior, perfeitos para serem usados na conquista do continente. O lugar também era ideal para a defesa de São Vicente contra um ataque espanhol. Assim, ele fundou formalmente, nos termos da legislação portuguesa, a Vila de Piratininga, com eleição para a "Câmara" e instalação do "Pelourinho", próxima da taba de Tibiriçá.

Como os brancos eram poucos, algum tempo depois, os habitantes de Piratininga se mudaram para Santo André da Borda do Campo, elevada a vila com a transferência do "Pelourinho" de Piratininga.

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No início de 1553, o padre Manuel da Nóbrega visita Santo André da Borda do Campo e decide enviar padres jesuítas para trabalhar na catequese da região. Eles chegam em agosto daquele ano e se instalam inicialmente num casebre acanhado, onde moram e lecionam.

25 de janeiro de 1554 é a data da inauguração do segundo colégio dos jesuítas no Planalto de Piratininga. Localizado num ponto de fácil defesa e maior do que o casebre original, é para lá que os jesuítas se mudam, após missa solene rezada pelo padre Manuel de Paiva.

A Vila de São Paulo de Piratininga foi oficialmente criada em 1560, herdando o "Pelourinho" da Vila de Piratininga, transferido para a Vila de Santo André da Borda do Campo, onde permaneceu até aquele ano.

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Em 1560, numa ação conjunta visando manter a ocupação do Planalto de Piratininga, João Ramalho e o padre Manuel da Nóbrega decidem unir os poucos moradores remanescentes em volta do colégio dos jesuítas.

A autorização para a união das duas pequenas comunidades, quase desertas, foi dada pelo governador geral do Brasil, Mem de Sá. Com ela se oficializa a transferência do "Pelourinho" de Santo André da Borda do Campo para a nova povoação, com menos de 100 habitantes, elevada à condição de vila e batizada de São Paulo de Piratininga.

Estes são os fatos. Por que 25 de janeiro foi escolhido para data da fundação da cidade e por que o padre José de Anchieta foi escolhido para seu fundador são mistérios que as idas e vindas da política explicam, mas que a história não confirma.

É PRESIDENTE DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS, SÓCIO DA PENTEADO MENDONÇA ADVOCACIA E COMENTARISTA DA RÁDIO ESTADÃO

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