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15ª pane do ano criou efeito cascata

Novo problema na CPTM começou no centro, causou atrasos em todos os terminais e culminou em caos na Estação Francisco Morato

Por Bruno Ribeiro e William Cardoso
Atualização:

Cerca de 90 mil passageiros da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) viveram nova manhã de caos ontem. A 15.ª pane grave do ano, mais uma vez por falha na rede elétrica, paralisou a Linha 7-Rubi, fez passageiros andarem nos trilhos e terminou com um grande tumulto na Estação Francisco Morato, na Região Metropolitana de São Paulo. O governo do Estado classificou a pane como "normal".Ao menos sete pessoas ficaram feridas sem gravidade, incluindo quatro agentes da CPTM. A Polícia Militar deteve seis pessoas, incluindo uma mulher e um adolescente. A previsão é de que apenas no domingo as bilheterias da Francisco Morato estejam consertadas - até lá, não haverá cobrança de passagem. O caos começou longe dali, entre as Estações Luz e Barra Funda, no centro da capital. Segundo a CPTM, dois equipamentos tiveram defeito e paralisaram a circulação dos trens até a Estação Pirituba. A falha criou um efeito em cascata, com atrasos em todas as estações.Com os vagões abarrotados, passageiros de três trens que seguiam para a Barra Funda cansaram de esperar a manutenção e abriram as portas de emergência. "Resolvemos a falha elétrica em 20 minutos. Mas, com as pessoas nos trilhos, só conseguimos restabelecer a circulação às 8h50", afirmou o secretário de Estado dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes.Caos. Na Francisco Morato, porém, a circulação não voltou. Os passageiros então se revoltaram e o tumulto se generalizou. A confusão começou já às 7h. Usuários do trem atearam fogo às bilheterias, destruíram as catracas, agrediram funcionários da companhia e quebraram equipamentos da estação. Os seguranças tentaram conter o tumulto - que envolveu mais de mil pessoas -, mas não conseguiram e chamaram a PM.Às 8h, o acesso ao saguão da estação foi isolado e o tumulto, controlado pelos soldados. O uso de spray de pimenta, porém, fez uma criança de 8 anos precisar de socorro médico. Já do lado de fora, por volta das 11h, houve nova confusão, e a população atacou as portas de ferro da estação, que estavam abaixadas. A multidão ainda deteve o tráfego na Avenida São Paulo, uma das principais da cidade. Durante a ação da PM, três pessoas foram detidas, o que ampliou a revolta. Usuários atiraram bombas de festa junina na estação e na PM, que revidou com balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral. Comerciantes fecharam as portas e só reabriram no meio da tarde. Também foram usados cães na ação. "Acompanhava a minha mãe, de 72 anos, e fui mordida por um cachorro da PM. Não estava na confusão", disse a dona de casa Marta Cândido dos Santos, de 29 anos. Segundo o major João Carlos Pelissari, que comandou a ação, a PM agiu com "força moderada" para conter o tumulto e somente uma pessoa se feriu, com um tiro de bala de borracha no tornozelo, além dos funcionários da CPTM. O ataque do cão será investigado.Um menor, uma mulher e quatro homens foram levados à delegacia. O ambulante Anderson Alves, de 29 anos, e Ricardo José de Souza foram indiciados pelo delegado Aloysio Salotti, por dano ao patrimônio. Alves foi responsabilizado por atirar uma das bombas. Segundo a mãe do suspeito, a também ambulante Cleonice Feitosa, de 61 anos, o filho não participou do tumulto e foi detido a um quilômetro da estação, na volta para casa.Tsunami. O governo do Estado afirma que tem feito obras para melhoria na rede metroferroviária, que ganhou 1,2 milhão de passageiros apenas de outubro para cá e hoje soma 7 milhões de usuários por dia. "É um tsunami de passageiros", disse o secretário Jurandir Fernandes. Ele atribuiu o aumento aos passageiros trazidos pela Linha 4-Amarela do Metrô, mas negou falta de planejamento ao calcular a demanda na rede. Já sindicalistas e a bancada do PT na Assembleia acusaram o governo de ter investido na compra de trens e esquecido as obras de infraestrutura.

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