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13 pilotos relataram pista escorregadia antes de acidente

Pelo conteúdo do relatório, verifica-se que funcionários fizeram pouco caso das advertências

Por João Domingos e Luciana Nunes Leal
Atualização:

Nos dia 16 e no dia 17 de junho, quando houve o acidente com o Airbus 320 da TAM, em que morreram 199 pessoas, 13 pilotos relataram às torres de controle situações de perigo na pista principal do Aeroporto de Congonhas. Entre elas, relataram que se encontrava "molhada e escorregadia", "abaixo do mínimo para pouso", "levemente escorregadia", "escorregadia", "muito escorregadia", e "escorregadia com aquaplanagem". As ocorrências foram entregues ao comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, que as enviou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Apagão Aéreo. Pelo conteúdo do relatório, verifica-se que funcionários fizeram pouco caso das advertências. A Infraero chegou a pedir no dia 15 que fossem feitas vistorias e informada a existência de lâmina de aquaplanagem na pista, logo depois do alerta de pilotos que pousavam. De acordo com os documentos enviados pela Aeronáutica, uma equipe comandada pelo supervisor Lucas, no entanto, concluiu, sem maiores detalhes, que a vistoria não era necessária. No dia do desastre com o avião da TAM, o piloto da Gol, vôo 1697, que pousou uma hora e quarenta e cinco minutos antes - 17h04 - informou que a pista estava escorregadia. As operações foram então suspensas. Houve inspeção, encerrada trinta minutos depois, com a informação de que não havia poças ou lâminas d'água na pista, imediatamente reaberta. O vôo 3054 da TAM - o do acidente, que saíra de Porto Alegre - pousou aparentemente sem problemas, relata o livro de ocorrências do Comando da Aeronáutica. Diz o relato: "O TAM 3054 vinha em final normal. Foi informado sobre pista escorregadia. Havia aeronave alinhada e outra cruzando para ponto de espera. Após o cruzamento, a aeronave alinhada decolou e o TAM 3054 foi autorizado a pousar. Após o pouso, e após a tentativa de parar, a aeronave ganhou velocidade e ultrapassou o final da pista, projetando-se na avenida". O relatório acrescenta ainda que o avião PT RFQ, "que estava decolando, foi informado do ocorrido mas não teve tempo de interromper a corrida de decolagem". No dia anterior ao acidente com o avião da TAM, o piloto do vôo 1879 da Gol arremeteu devido à chuva forte, por volta das 7h20. Em seguida, informou que a pista "não estava grande coisa, com pouca aderência". Oito minutos depois, o TAM 3020 informou que a pista estava "levemente escorregadia". Em seguida, foi a vez de o TAM 3461 dizer que a pista estava "escorregadia". Por sua vez, o Gol 1203 avisou que a pista estava "muito escorregadia". Também no mesmo dia, o TAM 3006 disse que a pista estava "bem escorregadia, com aquaplanagem". Conforme o boletim de ocorrência da Aeronáutica, a Infraero solicitou inspeção da pista, devido aos seguidos alertas dos pilotos. O funcionário Enildo informou haver ausência de poças e lâmina d'água. Logo após, o vôo 1542 da Pantanal pousou. Após o toque, aquaplanou, saiu da pista, cruzou outra, fez uma curva de 180 graus e parou na grama. A pista foi interditada, os bombeiros acionados. Relatos feitos pelos pilotos sobre a situação da pista de Congonhas nos dias 15, 16 e 17: Dia 15 de julho - Relatos de que a pista estava escorregadia. A Infraero determina uma vistoria, mas o supervisor Lucas decide que não era necessária. Dia 16 de julho - Gol 1879 arremeteu devido à forte chuva. Informou que a pista estava abaixo do mínimo para pouso, com pouca aderência. - TAM 3020 informou pista "levemente escorregadia". - TAM 3461 reportou "pista escorregadia". - Gol 1203 informou "pista muito escorregadia". - TAM 3006 disse que a pista estava "bem escorregadia, com aquaplanagem". - Pantanal 4763 pousou, aquaplanou após o toque na pista, cruzou outra pista, fez uma curva de 180 graus e parou na grama. - TAM 3215 chegou rápido, tocou a pista próximo à central, teve muita dificuldade para frear. O comandante José Eduardo Brosco informou que passara por um susto. Era a mesma aeronave que, no dia seguinte, pelo 3054, explodiria, matando 199 pessoas. - Gol 1986 disse que a pista estava "escorregadia". - Varig 2422 e Gol 1265 informaram pista "escorregadia". - TAM 3108 disse que a pista estava "muito escorregadia". - Curiosamente, nesse mesmo dia, foi informado que havia uma goteira no teto, próximo à mesa do supervisor da Infraero. Dia 17 de julho - Gol 1697 informou pista "escorregadia". - TAM 3054 pousou, não conseguiu parar, cruzou a Avenida Washington Luiz e explodiu ao bater no prédio da TAM Express.

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