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Polícia investiga 'pacto de morte' de casal achado morto em hotel em SP

Luis Fernando Kafrune e Kaena Novaes Maciel, que haviam retomado relacionamento recentemente, deixaram mensagens de despedida

Por Alexandre Hisayasu e Giovana Girardi
Atualização:
Câmeras mostram casal chegando em hotel de luxo Foto: Reprodução/Polícia Civil

SÃO PAULO - Um casal apaixonado que reatou um relacionamento de dois anos decide fazer um pacto e acabar com as suas vidas no quarto de um hotel de luxo na região central de São Paulo. Esta é uma das principais linhas da investigação da polícia para explicar a morte dos estudantes Luis Gernando Hauy Kafrune, de 19 anos, e Kaena Novaes Maciel, de 18. 

Segundo as investigações, o casal se hospedou no Maksoud Plaza, na Bela Vista, no domingo passado. O rapaz teria dado um tiro na cabeça da namorada e, em seguida, se matado. Policiais militares e peritos criminais informaram que a porta do quarto teve de ser arrombada e uma mesa colocada como barricada dificultou a entrada dos agentes. A arma estava em uma das mãos de Kafrune. Os dois estavam deitados de lado na cama e havia muito sangue no local.

Casal deixou mensagens de despedida Foto: Reprodução/Polícia Civil

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Os peritos não encontraram sinais de agressão nos corpos e apreenderam diários e agendas com conteúdo que sugere um pacto entre o casal. Em uma das cartas consta uma espécie de roteiro “para aproveitar a morte”. Em uma delas, Kaena escreveu: “Sei que estou fazendo todos sofrerem, mas isso é necessário para que eu pare de sofrer, obrigada por tudo que vocês fizeram por mim”.

O Maksoud Plaza informou que está colaborando com as investigações e cedeu à polícia imagens das câmeras de segurança que mostram o casal passando pela porta giratória. O jovem está de mochila e Kaena segura um chapéu de papelão em forma de coroa de uma rede de lanchonetes.

Celular. Investigadores do 5.º DP (Aclimação), responsáveis pelo caso, apuraram até agora que a arma do crime - uma pistola calibre 380 - pertence ao padrasto de Kaena, que é policial civil aposentado.

Ele disse na delegacia que, no domingo pela manhã, os dois foram até a sua casa, no Jardim Morumbi, zona sul, e disseram que iriam passear em um shopping. Assim que o padrasto foi à padaria, o casal saiu e levou a arma. Ao retornar, o policial não encontrou ninguém na residência. O padrasto da jovem acionou, então, um aplicativo para rastrear o celular dela. O programa indicou que o aparelho estava no Maksoud Plaza.

O pai de Kafrune foi avisado e entrou em contato com o hotel, que confirmou a hospedagem do casal. Depois de várias tentativas de chamar os jovens, os funcionários decidiram arrombar a porta, após a chegada do pai e do padrasto. 

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Doce. No Facebook, amigas de Kaena a descrevem como uma “garota doce”, divertida e preocupada com os outros. Audrey Graziadei deixou um depoimento triste. “Quem vai me fazer me sentir bem, até quando não tem como mais se sentir bem? Quem vai estudar comigo depois dá aula? Ninguém vai, nada vai ser igual sem você. Você é insubstituível.”

As amigas contam que Kaena tinha interesse em animes (até carregava um dicionário em japonês), dança e kpop (música coreana). E estava estudando para prestar o concorrido vestibular do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Kafrune cursava o terceiro ano do Curso de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP). O Estado não conseguiu localizar os familiares do casal para comentar as mortes.

TRÊS PERGUNTAS PARA... Maria Rita D’Angelo Seixas, doutora em Psicologia, terapeuta familiar e professora aposentada da Unifesp

1. O que pode motivar um casal a fazer um pacto de morte? Neste caso, não temos elementos para concluir nada. Mas, considerando a idade deles, isso poderia ser consequência de um romantismo exacerbado, associado a algum problema que eles consideravam incontornável e com potencial para separá-los.

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2. Os jovens são mais suscetíveis a essas atitudes? Sem dúvida. Não sei se eles tinham religião, mas a romantização de um amor eterno, que permanece após a morte, é algo que pega muitos jovens. Eles estão no início da vida afetiva e muitas vezes têm a fantasia de que a primeira paixão é para toda a vida. 

3. Poderia haver aspectos patológicos envolvidos? Não sei se podemos aventar essa hipótese. Esses casos podem envolver uma depressão motivada por um fator externo - doença ou resistência da família ao relacionamento - e um medo de perder um amor arduamente conquistado. / COLABOROU FÁBIO DE CASTRO

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