Mais poemas de sarau

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Por Redação
Atualização:

Mais alguns poemas dos frequentadores de saraus paulistanos:

Caneta malditapor Carlos Savasini

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Caneta maldita, por que não punhal? Por que não vaso de cor desigual? Por que tudo analisa, desliza e permite Que a tinta manche apenas papéis?

Seja punhal, ó caneta maldita, Troque esta cor por vermelho sangue, Não manche nem marque mais papéis Que não exprimem essência de dor.

Caneta maldita marque meu corpo, Manche em mim a folha de pele, Marque meu braço, meu rosto, meu peito, Rasgue as chagas e estirpe a agonia.

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Caneta maldita seja punhal E faça de mim rascunho vivo, Marque na pele o que brota da alma E faça singela a canção de meu corpo.

***Certezaspor Carlos Savasini

a meia toalha o chinelo

a calcinha o pente a escova de dente

detalhes que fora do lugar fazem de ti tão presente

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***Gigantepor Carlos Savasini

o peso a força e a mão

o rolo que contorce a massa o fuso que extrai o óleo e a bomba que mata sem dor

o peso da mão do homem é o peso da mão de deus

***por Daniel Minchoni

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um caminhao fechou o verso quase atropelei um til vá pro poetaqueopariu

***por Ruy Rocha

a vida é vã a vida é besta a vida é kombi é combinada

mas, às vezes, te deixa na parada errada devolve meu ticket filhodaputa

***por Daniel Minchoni

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olhando pra caixa de sabão rompo o lacre do paradigma da evolução o (h)omo sapies insiste em pagar sempre o mesmo mico o (h)omo macaquiens insiste em pagar sempre o mesmo sapo trabalha trabalha trabalha seis da manhã ônibus lotado aperto sufoco suvaco aff graças a deus trabalho trabalho stress stress oh yeah stress fast food fast fode câncer trabalho stress stress oh yeah oito da noite ônibus lotado aperto sufoco suvaco aff graças a deus casa família fast foda ronc ronc zzzzzzz trabalho seis da manhã ônibus lotado aperto. todo santo dia. trabalha trabalha sapiemos que somos homos. mas sapiemos se somos sapiens? sapiemos que somos homos. mas sapiemos se somos sapiens? (sapia que o sapiá sapia assupiá?)

***por Daniel Minchoni

rezei pra são paulo que horas são? já perdi o trem das onze

***por Daniel Minchoni

estava tão tampouco que destampou e saiu o oco

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***por João Xavier

na cidade do nascimento há muito tenho morrido é um velho vale do esquecimento dos mortos e oprimidos

na cidade do sol não me ansce na janela e nesta escuridão muito sinto as sequelas

na cidade do casarão de resistência morreram todos enlouqueceram de inconsciência e não conseguem nascer de novo

***por Daniel Minchoni

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o pastel cinza é da cidade cinza símbolo cinza são suas cinzas ruas cinzas cinzas são seu moleques cinza seu arco-íris cinzas suas putas não, nem seus travecos cinzas seus bichinhos de estimação seus times só pretos e brancos cinzas são suas artérias cinzas entupidas de carros cinzas e de veneno cinza e de cinzas senhoras cinzas são seus tamancos cinza são suas sardas cinzas cinzas são os seus bancos cinzas são os seus homens do tempo sempre cinzas sempre tempo cinza cinzas suas noites cinzas são suas fumaças cinzas das latas cinzas de seus excluídos cinzas cinzas são suas pausas cinzas são suas praças cinzas seu bosques cinzas seu cantos cinza todas as cores cinza são suas paredes cinza é sua farda cinza cinza é sua farsa cinza cinza é sua laia cinza cinzas são seus perfeitos cinzas são seu valores cinsas são seus defeitos cinza tua rima branca os seus leitos cinzas de morte cinza será o meu norte

***por Daniel Minchoni

somos poetas do tietê radioativos e contaminados como um porco boiando as oito em ponto. somos salada de cach^orro^ e plástico, e boneca, e lodo, e isso e aquilo e "otras coisitas más" que não cheiram lá bem ser poeta já é sujo se do tietê, nos devolve um pouquinho da dignidade* somos poetas do tietê** nascemos limpinhos, sobretudo*** mas vivemos e morremos na merda**** * se é que isto importa porra alguma ** quero ver gullar jurar que o poema dele ainda é sujo *** só um pouquinho de placenta e um cordão umbilical **** comendo do próprio umbigo

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