Heliópolis começa a virar um bairro de verdade

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Por Rodrigo Brancatelli

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Maria Assunção das Dores é uma senhora miúda de 79 anos, de fala muito mais rápida do que os seus passos vagarosos e um sorriso aconchegante que acabou lhe rendendo o apelido de Dorinha por toda Heliópolis, na zona sul de São Paulo. Há pelo menos 25 anos, segundo sua memória, ela mora em um casebre perto do Córrego Sacomã, nesta que já foi considerada a maior favela de São Paulo e a segunda da América Latina, com 130 mil habitantes e uma área de quase 1 milhão de metros quadrados. Dorinha, no entanto, não fala em "casebre", muito menos em "favela". Ela mora num lar, num bairro. Seu lar. Seu bairro.

"Já houve época em que eu falava que morava no Ipiranga, ou em São Caetano, para que os patrões não desconfiassem de mim", diz ela, que trabalhava de diarista. "Mas eu tenho um CEP, tenho endereço, pago imposto, não tenho porque ficar mentindo." Essa afirmação recorrente dos moradores de Heliópolis - um misto de orgulho por pertencer a uma comunidade e de esperança que a qualidade de vida da região melhore - vem se transformando em realidade. A passos lentos, bem vagarosos, como os de Dorinha, a vida de fato está melhorando, tanto com obras de urbanização como também pela iniciativa de diversas associações de moradores.

A transformação do tecido urbano de Heliópolis já é vista pelas ruas da região. O córrego está sendo canalizado, ruas estão sendo pavimentadas e construções estão sendo regularizadas, no que a Prefeitura chama de maior obra de urbanização da cidade. A reforma de 3 das 14 glebas de Heliópolis, justamente as maiores, consumirá R$ 165 milhões até o fim de 2010. Em agosto, o governo já espera entregar um total acumulado de 665 unidades de habitação, além de concluir as obras de um polo de educação integrado com três creches e uma escola técnica. Até 2010, a Secretaria de Habitação também espera entregar prédios populares com 556 unidades, de linhas arredondadas e projetados pelo arquiteto Ruy Ohtake, que podem se transformar em símbolo dessa nova Heliópolis.

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"O desenho é bonito, claro, mas ele também é funcional", explica Ohtake, que também desenhou o polo de educação de forma gratuita. "Não é só estética, os prédios são redondos porque assim é preciso ter distância um do outro. O cara poderá abrir a janela e ver um espaço vazio, um espaço público. No projeto do polo educacional, os edifícios estarão no meio de um parque, e esse parque será gerido pela comunidade. É a primeira vez que se tenta isso, os moradores terão responsabilidade direta pelo espaço público. São passos concretos para que Heliópolis se torne um bairro integrado a São Paulo, tanto social quanto urbanisticamente."

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Os próprios moradores também são parte integrante dessa mudança. Hoje, Heliópolis tem toda a sorte de projetos sociais, lavanderias comunitárias, telecentros, creches, cursos de alfabetização e de inclusão digital, palestras vocacionais e até uma iniciativa que pretende instalar uma rede de internet sem fio no local. Ao redor do bairro, também é possível ver que ao menos três prédios residenciais estão sendo erguidos, um indício do fim do preconceito do mercado imobiliário.

A intenção é que, com o inícios das atividades da escola técnica, Heliópolis se transforme, em até dez anos, em um "bairro educador" - principalmente pelo fato de que 52% dos moradores têm até 25 anos. "As primeiras coisas estão sendo feitas", diz Antônia Cleide Alves, presidente da União de Núcleos, Associações e Sociedades dos Moradores de Heliópolis. "Agora precisamos de mais espaços de lazer, mais moradias, mais transparência nas ações da Prefeitura. Ainda estamos engatinhando, é verdade, mas um dia iremos realmente caminhar."

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