Estadão
21 de agosto de 2009 | 23h17
Está marcada para às 20h de amanhã, na Casa das Rosas (Avenida Paulista, 37) a primeira edição do Sarau da Casa. Entre os convidados, estão os poetas Sérgio Vaz e Micheliny Verunschk e os músicos Felipe Soares, Emiliano Castro e Vinícius Pereira. O público, é claro, também poderá participar, apresentando seus poemas. Mas o ponto alto da noite, certamente, será o lançamento de um mapa com os 32 pontos onde ocorrem, periodicamente, saraus em São Paulo, conforme o Estado antecipou.
Confira alguns poemas de saraus paulistanos:
Lost na Leste
Por Vlado Lima
lost na
Leste
pra lá do lado B
do Boturussu
e daí?
sou da Sul
não tenho medo de teco
qualquer porta de boteco
basta pra eu me achar
sabe como é
mano é mano
mané é mané
em qualquer lugar
no Herplim
Bombaim
Dublim
Artur Alvim
ou Bagdá
***
Hardy har har abaixo de zero
Por Vlado Lima
só sol na cidade, no Pari no Peri no Morumbi
sol no Capão no Taboão
sol no Morro do Querosene
sol na Praça do Pôr do Sol
na Ladeira da Memória
na Estrada das Lágrimas
na M’Boi Mirim
naquele
dia
o
sol
ar-
dia
e acho que
só
chovia
em mim
***
Os tiozinhos da mesa do canto
Por Vlado Lima
4 (as vezes 5) tiozinhos sentados na mesa do canto
quase todos gordos carecas doentes falidos ou desempregados
sentam-se ali há anos
religiosamente
toda quinta-feira
na velha mesa do canto de cara pra Faustolo
sentam-se ali há anos
com suas barrigas
suas dentaduras
suas próstatas delicadas
seus pânicos & panes
seus penicos de prata
suas receitas secretas de como obter sucesso
comer mulheres & influenciar pessoas
e seus planos infalíveis de bombardear Manhattan Oriental
4 (as vezes 5) tiozinhos sentados na mesa do canto
acho que eles estão morrendo
tem noites — quando já estão pra lá da 4ª dose
— que dá até pra ouvir seus pensamentos
(:)
quem cuspirá na cova de quem?
quem contará piadas no velório de quem?
quem consolará a viuva de quem?
quem
herdará a solidão da mesa?
***
A nível de mar de Solemar
Por Vlado Lima
Mongaguá?
to lá
Perequê?
belê
Itanhaém?
tudo bem
vou sem
fitness
sem
bíceps
sem
leg press
sem
spinning
e de canja
(manja?)
levo uma pança de breja
pelanca
e pneu
vou de van
Jabaquara/Ocean
eu & as mina da Mooca
Gonzaga/Bertioga
vou na boa
na minha
vou na janelinha
sem culpa
sem medo
tô gordo?
tô brega?
pobrema meu!
a nível de mar
de Solemar
todo mundo é tão feio
quanto eu
***
Máscara
Por Vlado Lima
sexta sim
&
sexta sim
arrasto um sorriso amarelo-melancólico
pelas ruas do Jardins
/Madalena/Moema
e afins
não é um sorriso
aquele sorriso
é só um riso
básico
bélico
bucólico
meia-boca
mea-culpa
com um Q de épico cinemascópico
e BUM! de cartoon
quem me vê
assim
buzinando gargalhadas
diz
: lá vai um sujeito feliz!
***
Suicídio doce
Por Osvaldo Pastorelli
Hemingway quando percebeu que estava perdendo a inspiração, meteu uma bala na boca estourando os miolos.
Será que devo fazer o mesmo? Meter na boca uma bala?
Não sou aficionado a doce, mas uma bala de café é gostosa, uma de hortelã ou uma de coco, delicia.
Afinal, todos têm direito de meter uma bala na boca, se vai adocicar ou estourar os miolos, é outra história, não é mesmo?
***
São Paulo
Por Analice Feitoza de Lima
São Paulo, és chamarisco, com certeza!
Filhos postiços te conhecem bem.
És berço do trabalho, és fortaleza.
Mas para erguer-te vêm povos d’além.
E esperançosos de encontrar riqueza
de todos os recantos eles vêm.
Insistem na labuta com firmeza
se querem conquistar algum vintém.
E o esforço em bloco é que te faz enorme.
São Paulo, és a cidade que não dorme.
E embora tenhas na alma um peito de aço,
Na condição de irmão hospitaleiro
abrigas com carinho lisonjeiro
o mundo inteiro, sob teu regaço.
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