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Toda semente tem o direito de crescer

Por Henrique de Carvalho
Atualização:

Ilustração do autor (Henrique de Carvalho) a partir de imagem do arquivo Estadão.  

Todo ano tenho lançado um texto de fim de ano no qual destaco uma de minhas utopias urbanas.

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Invariavelmente, minhas utopias urbanas coincidem com minhas utopias éticas e planetárias. Tudo sempre girando em torno da possibilidade de, um dia, vivermos em ambientes florestais ou florestados, envoltos não só por plantas como também por toda a fauna que nelas habita. Que orgulho terei de responder para os gringos que "Sim, tem macacos na minha rua, araras nos postes e tatus nos quintais! Não é legal?!"

Depois de um ano como o que tivemos, depois das hecatombes vividas em 2019, com reflexos em todas as áreas de nossas vidas e retrocessos a perder de vista, tudo o que desejo é que as sementes do bem possam germinar e crescer.

Cada vez mais tenho juntado sementes para distribuir por aí. Dou pra amigos que tem chácara, jogo nas ilhas gramadas entre pistas de avenidas, nos jardins improdutivos das pessoas, nos cantinhos de praça sem uso, nos jardins dos prédios. Onde quer que eu veja uma graminha inútil ou um jardim largado, propício ao esquecimento que possibilitará às minhas sementes brotarem e se desenvolverem a tempo de não serem cortadas, lá estarei lançando minhas sortes.

Toda semente merece a oportunidade de crescer e se desenvolver. Elas devem ter o direito de crescer e dar frutos. Assim com as crianças, com os animais e com os melões, mamões, maçãs, peras, uvas, melancias, mexericas, laranjas, limões, pitangas, mangas, carambolas e tamarindos que comemos em casa. Não jogo mais fora as sementes. Guardo e lanço elas por aí, torcendo pra em breve ter melões maduros no meio da rua Sena Madureira, pés de pitanga e tamarindo no meio da avenida Nove de Julho, mamoeiros nos canteiros das marginais e mangueiras na beira das estradas.

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Se minha utopia de viver na floresta continua mais viva do que nunca, ela deve começar de algum ponto. Este ano proponho que lancem sementes, pois algumas delas sempre brotam.

Depois de um ano de pesticidas cancerígenos e desinvestimentos de tudo o que é importante, ajudar sementes a brotar me parece ser a metáfora prática de que precisamos para ter esperança de ver a vida crescer e dar frutos desviados da rota proposta nesse 2019, da mesma maneira que as sementes lançadas desviarão nossas cidades das rotas propostas.

Joguem sementes, inclusive em terrenos vazios. Muitos deles seguirão assim por mais de dez anos e depois suas árvores nem poderão mais ser cortadas.

Que no 2020 de todos vocês germinem o bem, o amor, o suingue, mil plantas e esperanças.

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Sementinha

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Em 2020 iniciarei meu mestrado na USP, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo em São Paulo. Em tempos bicudos, investir em pesquisa e educação é estimular a germinação de sementes do bem. E terei muitos textos sobre isso neste próximo ano.

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Feliz Ano Novo a todos e obrigado pela companhia!

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