A nova onda de contaminação, covid e o que faremos dele _ parte 2

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Por Henrique de Carvalho
Atualização:

Ilustração do autor (Henrique de Carvalho) sobre imagem de divulgação da obra de José Resende disponível em https://www.pucsp.br/artecidade/novo/resende_int.htm  

A nova onda de contaminação, covid e o que faremos dele _ parte 2

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[ou, parafraseando Sartre, "e o que faremos com o que ele fez conosco".]

Quando sairmos dessa, precisaremos urgentemente de mais um Arte/Cidade. 

Há alguns anos participei de um curso com Nelson Brissac, professor, filósofo e idealizador dos eventos Arte/Cidade, que ocorreram em São Paulo e tiveram sua quarta e última edição em 2002, quando estava no terceiro ano da faculdade de arquitetura.

O evento sempre transformou positivamente todos os setores urbanos nos quais se implantou, reunindo artistas em abordagens transdisciplinares para produzirem obras na escala da paisagem, da arquitetura e do urbanismo.

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Nelson dizia, informalmente, que não fez a quinta edição porque eles foram sucessivamente crescendo em escala e, para dar sequência ao evento, o próximo teria de agir em escala regional, o que seria impraticável. É impossível adivinhá-lo, mas penso que, se houvesse esta outra edição, em evolução linear a partir das quatro primeiras, seria algo na escala da megalópole Santos-São Paulo-Campinas, com especial atenção à Serra do Mar e densidades tais quais, não necessariamente todas florestadas, mas todas intersticiais e quase impenetráveis neste aglomerado urbano tão denso e poderoso.

2002-2020

Não acredito que haja qualquer misticismo na associação entre os números dos anos 2002 e 2020, apesar de seus quatro caracteres criarem associações interessantes dada a similaridade entre eles.

Ainda assim, simboliza a boa hora de retomarmos o evento que ocorria na cidade. Tendo a pensar que foi um hiato necessário e imprescindível para o amadurecimento do que poderia ser a sua retomada. 

Não faria uma nova edição, mas uma outra edição. Assim como a arte é capaz de nos oferecer a experiência de realidades outras (ainda mais quando atuam na grande escala), um outro Arte/Cidade não se daria mais na escala territorial palpável, que seria supostamente a da megalópole -- uma expansão territorial física, interligada por fluxos bem demarcados e de limites detectáveis --, mas dirigir-se-ia ao impalpável. 

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Este outro Arte/Cidade -- que grafaria até Outro Arte-Cidade, mas não o farei porque seria desnecessariamente pedante --, tal como a arte, articula influências de uma espacialidade virtual através de uma interface que permita o compartilhamento de sensibilidades. Seria portanto um Arte/Cidade global, pós-pandêmico, estabelecendo não apenas relações territoriais, mas relações virtuais difíceis de serem mapeadas cartograficamente e que se expressam com maior propriedade na forma de nuvens de dados -- mais especificamente, dados-atividades.

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Assim seria cumprida a expansão presumida a cada edição que, nesta quinta, seria desdobrada em outra maior -- desta vez, planetária. 

Na edição de um belo livro feito pelo SESC a respeito da 4ª edição do Arte/Cidade, lemos a descrição do que seguiria nos servindo hoje, "Uma complexidade que acarreta o colapso da experiência individual e dos procedimentos convencionais de percepção e mapeamento". 

A partir daí, as escalas poderiam repetir esta mesma, independente de localidade e tamanho da exposição pois, pelo menos nesta edição que imagino ser mais do que necessária, o evento manteria sua identidade, que é a mesma de seu objeto de estudo: a complexidade.

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