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Por Haisem Abaki
Atualização:

Estou aos sete minutos do segundo tempo nesse jogo da vida. E, sem falsa modéstia, desde os primeiros lances, já apresentava uma característica que logo começou a ser tratada como virtude. Ainda era criança quando amigos dos meus pais se espantavam com a minha memória. Na verdade, era apenas facilidade para decorar nomes de presidentes da República, ministros, personagens históricos e números de telefone. Tá bom, vai... Era até  chamado de "prodígio" por alguns.

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Mas hoje vejo essa "qualidade" se voltando contra mim. Não queria mais ter tantas lembranças. Virei um chato inconformado com certos "esquecimentos" que tenho visto por aí. E o pior é que os "desmemoriados" seletivos são velhos amigos, gente de bem em quem ainda tento confiar. Entre eles estão jornalistas que se comportam como se estivessem na arquibancada.

E fico tranquilo pra dizer isso porque também sempre tive os meus "lados". Fui criado por um pai muçulmano, com ideologia socialista e palmeirense, mas que sempre me mostrou que existiam os "outros lados". Por isso, não tenho o menor constrangimento em enxergar os radicalismos dos que se dizem islâmicos. Nem para ver os desvios de conduta (e de dinheiro público) de antigos "heróis" da esquerda. E muito menos para cornetar o Palmeiras. Não mudei de lado por causa disso.

A mais recente bizarrice que vejo é esse Campeonato Brasileiro de Vaias em que está em disputa o título de "o mais odiado". Gente esclarecidíssima, que não pode usar o benefício da ignorância e que se indignou com os apupos a Lula no Pan de 2007 e a Dilma na Copa de 2014, mas que agora se regozija com o uuuuuuhhhhhh a Temer no Maracanã. Desta vez não ouvi "teses" de torcida organizada dizendo que eram vaias "da elite" como as duas primeiras. Ora, vaia é vaia. O som é o mesmo em todas. E penso que nos três casos foram vaias válidas.

Da mesma forma, vejo uma justa indignação quando colegas de profissão, no exercício de suas funções, são vítimas de agressões físicas e verbais em protestos. Só que tem uma turma que fica muito mais veemente quando o ataque parte da polícia e que dá "um desconto" se a mão que bate ou a voz  que ofende vem de manifestantes. Até entidades de classe que deveriam defender os jornalistas em qualquer dessas situações fazem essa diferenciação. Sim, considero pior a agressão por parte de um agente público pago com nossos impostos, mas o tapa "civil" não é civilizado e também dói.

Essas "leituras seletivas" já são banais como o grito da torcida nos estádios deste país quando o goleiro adversário do time da casa vai cobrar o tiro de meta.

- Biiiiiichaaaaaa!!!

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E se o cara "gostar de homem" mesmo? Qual o problema? E se adorar o Lula, a Dilma ou o Temer? E se não for simpatizante de um deles, de dois, ou dos três? Enfim, ficamos indignados quando o vaiado ou o bicha é do nosso time, mas berramos que é "democrático" se o alvo do ataque for um adversário. Que cada um possa vaiar ou aplaudir quem quiser. E que tenha liberdade para ver (ou não ver) qualquer filme sem ser pau mandado das opiniões e preferências alheias. Nem das minhas.

Aos amigos incomodados com o que digo peço mais jornalismo e menos "dá-lhe, Porco" e "vai Corinthians". Mas se não gostarem do meu "sincericídio" fiquem à vontade. Se quiserem posso cobrar um tiro de meta pra facilitar o serviço.

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