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Visões crônicas do dia a dia

Deixando a vida rodar

Foto do author Haisem Abaki
Por Haisem Abaki
Atualização:

Dilmadas, cunhadas, luladas, marinzadas, alckminzadas, haddadas, pedaladas, corintianadas... Um simples toque do celular me tirou da roda viva das notícias repetitivas da semana e deixou tudo mais leve. Se bem que os corintianos estão no maior sossego, ao contrário dessas companhias que coloquei aí.

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Mas, voltando ao celular... Era uma foto. E foi o suficiente para eu perceber que a vida ensina até quando a gente nem percebe que está aprendendo. O negócio é se ligar e prestar mais atenção no que realmente importa.

As lições já haviam começado alguns dias antes, no fim de semana, quando tive uns bons papos com o autor do retrato. Ele me falou sobre amor, família unida e saudade. Contou que sempre gostou de acordar no domingo de manhã e ver a mãe e o pai preparando o café e conversando na cozinha.

Fez comentários sobre as perdas que temos na vida, Deus, fé e a confiança que tem na irmã. Viu na TV uma reportagem sobre crianças com câncer e concluiu que nossos problemas ficavam bem menores. Aí, quis saber mais sobre o meu trabalho, como e quando comecei e detalhes da minha rotina, sempre atento às explicações. Depois, projetou a própria carreira, demonstrando o gosto por carros, motores e jogos eletrônicos.

Educação e leituras também entraram no papo. Mais adiante, o fotógrafo abordou a minha terapia e as crônicas que escrevo. Mostrei algumas que ele leu pela primeira vez. E outras, que alegou já ter lido, mas mesmo assim resolveu reler. Desta vez em voz alta, sempre com alguma observação ou apenas um sorriso.

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Até culinária entrou no repertório do meu interlocutor, interessado em alguns pratos árabes. E, como um assunto puxa o outro, falou da Síria também. Nesse ponto o tema passou a ser viagem. Perguntou sobre lugares que conheço e que quero conhecer. Chegamos a fazer alguns planos em conjunto.

O curioso rapaz ainda tratou das minhas corridas. E falamos sobre cinema e carros. Contou que o preferido dele é uma McLaren. Na minha ignorância, pensei naquele da Fórmula 1. Mas não. Ele foi buscar no celular pra me mostrar. E perguntou qual era o meu. Lotus, respondi. A da Fórmula 1, claro.

Enfim, conversamos muito, tomamos café, almoçamos, caminhamos sob o meu torto guarda-chuva, torcemos juntos no futebol, passeamos, jantamos, rimos um montão e fomos dormir bem tarde porque o papo estava gostoso e não terminava. Descobri alguém com maturidade, bom senso e sonhos.

E me lembrei de todos esses momentos ao abrir a foto que ele me mandou. Era uma bela e iluminada roda gigante instalada no shopping. Ele já tinha me contado que conseguia vê-la de casa e estava impressionado com a montagem do equipamento.

Às vezes esqueço que minha versão melhorada é um garoto de 12 anos, gente boa e que fala "véi" pros amigos, como eu faço. Perguntei se ele queria ir lá, andar na roda gigante. E surgiu o primeiro momento de indecisão, com um "num sei". Então, apontei para a decoração de Natal e questionei se ele gostaria de ver a chegada do Papai Noel.

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- Aí, não, né, pai?

Putz, às vezes me escapa mesmo a lembrança de que ele tem 12 anos...

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