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Por Vitor Hugo Brandalise
Atualização:

Por Rodrigo Burgarelli

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Das mais de 100 mil pessoas que usam diariamente a estação Lapa da CPTM, uma boa parte passa pela sombria passagem subterrânea que liga a área de embarque ao centro comercial da região. O túnel fica bem abaixo dos trilhos de duas linhas de trem, que cortam mais de cinco municípios da Grande São Paulo trazendo todo dia uma enxurrada de consumidores ávidos pelos tênis e bolsas das lojas na Rua 12 de Outubro e dos quitutes do Mercado Municipal da Lapa.

Tanta gente com dinheiro na mão transformou a passarela em um shopping informal, tamanha a quantidade de vendedores e artistas de rua que se amontoam nos corredores. No meio da passarela, um senhor de chapéu pede esmola em uma cumbuca, ao lado de dois cartazes anunciando viagens ao Paraguai. Mas pouca gente dá bola para ele. Quem faz bem mais sucesso é o violonista cego, um negro de cerca de 40 anos que canta em uma voz grossa e afinada enquanto toca violão e equilibra sua bengala no braço esquerdo.

 

Músico cego sentado nas escadas. Foto: JB Neto/AE.

A música ressoa pela passagem, mas, poucos metros adiante, mal pode ser identificada em meio à gritaria dos ambulantes. São mais de quinze, anunciando chocolates a R$ 1, bolsas femininas, brinquedos brilhantes, carteiras de couro e chips de celular. Esses últimos são os mais gritalhões.

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Uma delas, uma moça bonita de cerca de 30 anos, conta que a natureza do serviço exige atenção total, já que policiais militares (cada vez mais numerosos) podem aparecer a qualquer instante por alguma das seis escadas que dão acesso à passagem. "Se eles me pegarem, confiscam essa mochila com todos os chips", diz. Mas vale a pena trabalhar sob tanta tensão o dia inteiro? "Ô, vale. Aqui vende chip demais, não tenho o que reclamar."

Nas paredes, anúncios de emprego - "contratam-se garçons, pedreiros e auxiliares administrativos com urgência" - e bazares relâmpago de roupas usadas (mas ainda "semi-novas"). Eles disputam espaço com convocações para peneiras de clubes de futebol e propagandas de casas populares de R$ 15 mil em locais como Franco da Rocha ou Francisco Morato.

Uma mensagem misteriosa foi gravada sete vezes em spray preto e caixa alta: "Edmílson, você é corno". Nenhum dos vendedores quis dar sequer uma pista sobre essa denúncia conjugal. As mesmas paredes amarelas, porém, exibem uma dica para se desvendar a traição: cartazes do "detetive particular e investigador Lino", que investiga "casos amorosos, comerciais e familiares" prometendo produzir "provas reais" com máximo sigilo.

 

Detetive e investigador Lino. Foto: JB Neto/AE.

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