PUBLICIDADE

Mano, o alimentador de passarinhos

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:
 Foto: Estadão

Por Vitor Hugo Brandalise Foto de Tiago Queiroz/AE Para passarinho, mamão é filé mignon. A constatação é de Tomomi Uemura, o "Mano", despachante aposentado que vai todo dia ao Parque da Aclimação, no centro, com missão que considera indispensável: alimentar passarinhos. Há sete anos, chuva ou sol, Natal ou carnaval, lá vai Mano, carregando frutas da feira para encher o papo dos penosos. Acabou ficando amigo das aves. "Só não comem na minha mão agora porque pensam que essa câmera é uma espingarda."

PUBLICIDADE

No parque, frequentadores o chamam de "japonês dos passarinhos". Desde que se aposentou, em 2004, seu trabalho voluntário é abastecer as duas bancadas de madeira que ficam atrás da concha acústica, com 30 a 40 mamões e mais 35 bananas por dia. Sabiás-laranjeira, sanhaços, periquitos, a passarada faz a festa com o banquete de Mano.

Questões estratégicas o levaram a escolher o "local de trabalho". Nos arredores do parque há seis feiras livres, quase uma por dia da semana. Ficou tão conhecido que nem precisa avisar: os feirantes separam todo dia frutas para ele. "Na terça, é na Rua Guimarães Passos. Na quarta, na Oliveira Peixoto. Na quinta, Teodureto Souto, e por aí vai", enumera - e se empolga: "Aqui é a cratera de um vulcão! Um centro de distribuição privilegiado! É quente!"

O dia desse voluntário alimentador dos passarinhos começa cedo: caminhada a partir das 5 horas, frutas para os pássaros às 8, feira no início da tarde para abastecer o carrinho. "Nunca perdi um dia. Natal, ano novo, nunca." Para facilitar a vida, ele mesmo resolveu melhorar a infraestrutura do parque. "Fiz uma vala para escoar a água e construí a segunda bancada."

O aposentado, de 64 anos, tem uma única bronca. "Não aguento pais que ensinam os filhos a assustar os passarinhos. Ainda vou chegar para um desses e falar: 'cai fora você, seu tranqueira! Eles não têm outro lugar para ir numa cidade como essa!'"

Publicidade

Depois, enquanto discorria sobre o penteado dos pica-paus-pretos - "parece que passou gel no cabelo, todo cheio de marra " - ele interrompeu o raciocínio. Já são 11h30, ele tem compromisso, tem de puxar logo o carrinho. "Me apavoro só de pensar em perder a hora, tenho mesmo de ir", disse, e encerrou a conversa. Era terça, dia de feira na Guimarães Passos.

Versão ampliada de perfil publicado na coluna Que Figura!, do caderno Metrópole, em 21.04.2011.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.