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Para devorar livros

Lanchonetes e restaurantes de SP apostam em bibliotecas coletivas para descontrair ambiente e cativar clientela

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Por Edison Veiga
Atualização:

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Esqueça poeira, silêncio, organização exagerada, carteirinha de empréstimo. Nas pequenas bibliotecas que surgem em lanchonetes, restaurantes e até parklets de São Paulo, as palavras de ordem são outras: horizontalidade, coletivo, bookcrossing, autogestão. Com boas pitadas de marketing, é claro.

 Foto: Cesar Cuninghant/ Estadão

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É o caso da Rock'nRoll Burger, lanchonete que existe desde fevereiro de 2012 no burburinho da Rua Augusta, região central de São Paulo. Há um ano, o local passou a integrar o projeto Esqueça o Livro, inaugurando ali uma estante para cerca de 100 exemplares. "A ideia é que as pessoas deixem livros diversos e levem para casa quais quiserem. Isso gera uma rotatividade, fazendo com que tenham a oportunidade conhecer outros títulos e gêneros literários", afirma o proprietário da casa, Gabriel Gaiarsa.

Inicialmente, os títulos que compunham a biblioteca eram apenas das áreas de Gastronomia e Música - pela própria ligação com a lanchonete. Como a participação do frequentador é ativa na composição do acervo, hoje a coleção é mais heterogênea.

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 Foto: Cesar Cuninghant/ Estadão

"Além de despertar a curiosidade e o interesse pela leitura de quem passa por ali, o projeto é importante para criar um senso de comunidade", avalia Gaiarsa. "Ou seja, fortalecer o laço entre a lanchonete e as pessoas do bairro, da região. Muitos acabam voltando para trocar ou ceder livros para o projeto."

Cinco meses atrás, quando resolveu que queria um parklet em frente ao seu restaurante - o Maíz, em Pinheiros - o chef colombiano Dagoberto Torres pensou em livros. "Porque além de um espaço, queria oferecer alguma atividade para as pessoas", conta. Saiu garimpando pelos sebos da região e comprou 25 títulos - todos de literatura hispano-americana, em destaque obras de seu conterrâneo Gabriel García Marquez (1927-2014). "Mas os próprios sebos acabaram gostando do projeto e doando mais de 50 obras. No dia seguinte, então, uma senhora parou o carro aqui na frente e acabou deixando outros 30 e tantos livros", recorda-se.

Com a integração dos usuários, a temática hispano-americana se perdeu. "Outro dia, vi que tínhamos a coleção completa do Harry Potter, por exemplo", conta. Torres não vê nisso um problema. Pelo contrário. "É superlegal. A biblioteca ficou viva e natural", avalia.

No discurso da sorveteria Ben & Jerry's, na Rua Oscar Freire, está a preocupação com o "prazer do consumidor". A biblioteca comunitária existe ali desde setembro do ano passado, quando a unidade foi inaugurada. "É um cantinho de prazer, inspiração e sabedoria. Ao entrar ali, esperamos que o nosso consumidor, não só se delicie com um sorvete cheio de pedaços e história, mas também pare para fazer algo que lhe dê prazer", afirma a publicitária Renata MCNair, porta-voz da Ben & Jerry's no Brasil. "Como a sorveteria é frequentada por um público heterogêneo, usamos nosso espaço para oferecer leitura de qualidade ao paulistano."

Em maio, o acervo passou a ser melhor pinçado. Foi quando o estabelecimento firmou parceria com o jornalista Ricardo Lombardi, proprietário do sebo Desculpe a Poeira. Desde então, ele atua como curador da coleção, oferecendo cerca de 40 títulos por mês para repôr os levados pelos frequentadores. "Nessa tarefa, acho que o mais importante é escolher livros que não estão no radar da maioria das pessoas, pois é mais divertido esbarrar em títulos que você não conhecia", comenta Lombardi. "Conectar novos leitores com livros desconhecidos é o mais interessante desse tipo de trabalho."

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Pequenos leitores também têm vez. Na rede America, em 2008 houve um projeto chamado Ponto Livro Livre, em que crianças podiam levar livros para casa - deixando exemplares usados para que outras pegassem. Foi uma ação por tempo limitado, de apenas três meses. "Mas a ideia foi tão bacana que resolvemos, então, implantar logo na sequência o Cantinho da Leitura, com pequenas estantes recheadas de livros do universo infantojuvenil", conta Mirella Scorza, gerente de marketing da empresa. "Diferentemente do projeto inicial, entretanto, agora a proposta era que as crianças fizessem a leitura dentro dos restaurantes." Atualmente, há livros em todas as unidades paulistanas da rede.

"Foram selecionadas obras das principais editoras infantojuvenis do mercado, e entre seus títulos buscamos comprar os mais interessantes entre os lançamentos e os best-sellers", diz Mirella. "Achamos que os livros são uma forma de diversão que estimula o lúdico e o prazer pela leitura, tão importantes nessa fase da vida. Para nós é um orgulho ver que algumas crianças chegam no America e vão direto escolher seu livro, antes mesmo de se sentar à mesa."

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