Militão Augusto de Azevedo (1837-1905) é um dos principais nomes da fotografia brasileira na segunda metade do século 19. São dele os principais registros fotográficos da cidade de São Paulo nesta época. Vice-diretora do Museu Paulista, mais conhecido como Museu do Ipiranga, a historiadora Vânia Carneiro de Carvalho analisou os cerca de 1,3 mil retratos produzidos no ateliê de Azevedo que hoje constam do acervo da instituição.
Como resultado visual do trabalho, produziu o vídeo acima - em que essas imagens aparecem justapostas, em uma interessante edição. "Essas fotografias têm diferenças para os olhos de hoje muito sutis, mas que nos informam sobre como corpos de homens e mulheres já eram tratados de modo distinto", afirma a pesquisadora, em artigo publicado no site do Museu Paulista. "Homens não são fotografados de perfil, só as mulheres se deixavam registrar nesta pose, em que se abre mão de mostrar o rosto de frente ou mesmo na rotação 3/4, lugar da identidade individual, para privilegiar as formas do corpo - o perfil, curvas da nuca e do quadril, volume do busto, do penteado e da saia."
"Em retratos de casais, os homens muitas vezes aparecem sentados e a mulher de pé", prossegue a historiadora. "Poderíamos pensar que se sentar com espartilho e saias tão volumosas seria um desconforto maior do que ficar de pé. Mas não é esse o caso. As mulheres sabiam como se sentar usando todo esse aparato. Acontece que o acesso à cadeira é uma distinção que se dá mais ao homem do que à mulher. Sentar-se é um gesto de poder tradicionalmente associado ao chefe de estado, da igreja e da casa."