Edison Veiga
23 de dezembro de 2015 | 21h26
Por Benedito Lima de Toledo*
Profanação da memória da cidade de São Paulo, eis o significado do pavoroso incêndio. A Estação da Luz constitui um componente essencial do patrimônio ambiental urbano da cidade de São Paulo. Sua imagem, a par de todos significados a ela associados, identifica-se com a própria metrópole. Razões de primeira ordem terão levado seus idealizadores a tal empreendimento, a começar pelos prenúncios da futura metrópole.
Para execução do portentoso projeto foi convocado o engenheiro inglês Charles Henry Driver, detentor de respeitável currículo nesse gênero de obra. Pronto o projeto, a obra foi iniciada em 1895 com material importado da Escócia.
Sua inauguração oficial ocorreu em 1901. A denominação da região prende-se à construção do Mosteiro da Luz, dos poucos edifícios executados na técnica de taipa de pilão, a exemplo dos demais de sua época na cidade. Um viajante inglês chegou a mencionar “São Paulo is a mud city” (São Paulo é uma cidade de barro).
A região guardava peculiaridades, a começar pelo Comércio da Luz, uma autêntica feira livre que se desenvolveu nessa ampla área onde veio a ser aberta a Avenida Tiradentes com sua invulgar dimensão para a época. Os ingleses foram responsáveis por vários empreendimentos no bairro, a exemplo da construção de um conjunto de residências conhecido como Vila Inglesa destinado a moradia dos engenheiros da ferrovia. Sua arquitetura constitui uma surpresa à época e sua implantação beneficiou-se com a proximidade do Jardim da Luz.
A estação permaneceu inalterada até novembro de 1946, ocasião em que sofreu pavoroso incêndio, onde muitos viram mãos criminosas. A reconstrução das partes afetadas ocorreu entre 1947 e 1951, momento em que teve o acréscimo de um andar.
Foi tombada pelo Condephaat em 1982. Em 1995 passou a ser considerada Patrimônio Histórico Nacional. É tombada, igualmente, pelo Patrimônio Municipal – Conpresp.
Esse precioso monumento da cidade certamente sobreviverá às chamas que o acometeram. Para tanto, não falta disposição aos paulistas.
* Arquiteto, urbanista e historiador, é professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.