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Paulistices, cultura geral e outras curiosidades

Divina desumanidade

Ou: Je Suis Charlie - em três hipóteses

Por Edison Veiga
Atualização:

Imagem: Reprodução Foto: Estadão

Hipótese 1

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Assembleia extraordinária em algum lugar chamado Céu. Na gigantesca mesa, o Deus principal de cada religião politeísta e o Deus-Deus de cada religião monoteísta. Uma cadeira vazia representa o deus dos ateus - que tem seu nome, deus, grafado assim, em caixa-baixa na plaquetinha de identificação sobre a mesa.

- A que ponto nossos seguidores chegaram? - diz um Deus, entre cabisbaixo, atônito e descrente no futuro da humanidade.

- Pois é... A que ponto? E o pior é que isso não é de hoje, meu caro... - completa outro Deus, coçando a barba. - Lembra daquelas torres enormes lá em, como se chama mesmo aquela cidade bacana lá nos Estados Unidos para onde a brasileirada corre sempre que pode?

- Ora, ora... Não culpem apenas os que professam a minha fé. Vamos fazer um exercício de memória, meus caros, afinal, nós existimos desde antes do Universo, ou do Multiverso, ou seja lá qual a teoria que esteja em voga hoje - provoca um terceiro Deus.

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- Você está certo, meu chapa. Vamos fazer a lista aí: Tribunal da Santa Inquisição, Cruzadas, Noite de São Bartolomeu... E tome etc. A lista é imensa, a lista é infinita, a maldade humana não tem nem como medir.

- O pior, meus queridos, o pior de tudo isso é que eles usam nossos nomes em vão. Como fica nossa imagem? Nós que fomos inventados justamente para disseminar o amor, a paz, a fraternidade universal...

Hipótese 2

Na verdade todos os deuses que existem - também aqueles que não existem, porque há os que não acreditam - são um único ser superior: Deus. Então ele não precisa se reunir com ninguém para lamentar os últimos acontecimentos.

Mas Deus está triste. A gastrite voltou a atacar. A noite está sendo de uma terrível insônia. Ele não sabe se é melhor apertar um ALT F4 e resetar a humanidade de uma vez, deletar tudo para começar de novo, ou se vale a pena dar outra chance. Mais uma. Pela enésima vez - a piedade divina é mesmo um troço lindamente difícil de entender.

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- Onde foi que eu errei? Onde foi que eu errei? - pergunta Deus ao espelho.

Na falta de uma resposta, no silêncio que nem um eco tem para devolver uma voz, Deus fica em dúvida se o erro foi só na parte do livre-arbítrio ou na totalidade do projeto humano.

Hipótese 3

Não há Deus.

A culpa é toda do ser humano, esta criatura que não sabe brincar.

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