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Conheça a 'Sebastião Bach', a rua dos pianos

Via com pouco mais de 200 m em Pinheiros, na zona oeste de SP, tem pelo menos 15 pianistas

Por Edison Veiga
Atualização:

 Foto: Gabriela Biló/ Estadão

É Sebastião Velho o nome de uma ruazinha de dois quarteirões em Pinheiros, zona oeste de São Paulo. Mas pode chamar de Sebastião Bach, como brincam alguns moradores. A referência a Johann Sebastian Bach (1685-1750), genial compositor do barroco germânico, tem explicação: nos pouco mais de 200 metros da via moram proprietários de 15 pianos.

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"Acho que esta rua está localizada em um tempo e em um espaço diferente da cidade", arrisca como justificativa o compositor e pianista Daniel Grajew (foto acima), de 37 anos, um dos moradores. "A Sebastião Velho traz um pouco do que foi a São Paulo dos anos 1940 e 1950. Quem mora aqui tem apreço por esse clima de quando a música mais importante era a tocada ao piano, e não a ouvida pelo Spotify (serviço de streaming)."

 Foto: Gabriela Biló/ Estadão

Pianista desde os 11 anos, Grajew mudou-se para um apartamento na rua há dois anos. Levou o velho piano de mais de 100 anos, xodó da família. "Era da minha bisavó", conta. "Tem um valor muito pessoal, afetivo."

Proprietária de dois pianos alemães, Maria Angélica Pereira Guedes (foto acima), de 70 anos, é professora do instrumento há cinco décadas - o que a permite, aliás, conhecer "metade da rua". "Na verdade, assim de memória, acho que conheço uns oito aqui na Sebastião Velho", diminui. Ela dá lições de piano em sua casa ou no domicílio do aluno.

Mora no atual apartamento há 20 anos, mas antes já vivia por perto - na vizinha Vila Madalena. Acredita que é uma questão geográfica a profusão de pianos na mesma rua. "Essa região é muito cobiçada por artistas, gente ligada à arte. O pessoal é voltado às coisas bonitas. Isso deve determinar a vontade de ter um instrumento desses em casa", afirma. "Hoje em dia, estrangeiro que vem para São Paulo quer conhecer essa região. Vila Madalena, Pinheiros são redutos das artes."

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Professora de francês e tradutora, Cláudia Amaral Vieira Silveira, de 49 anos, concorda. "É um cantinho de São Paulo que atrai pessoas com um pouco de alma artística. Aqui moram professores, arquitetos, jornalistas, publicitários e artistas de verdade", diz ela, que vive na Sebastião Velho há 12 anos - e tem piano desde os 8 anos.

 Foto: Gabriela Biló/ Estadão

Concerto na rua. A publicitária Fernanda Salles (foto acima), de 47 anos, é uma das alunas de Maria Angélica. Que acabou se mudando para a Sebastião Bach, quer dizer, para a Sebastião Velho, justamente por causa da professora. "Ela que me contou que havia uma casa para vender", conta. Dona de um piano há 12 anos, mora ali há oito.

"Os moradores daqui têm um nível cultural, um gosto específico diferente. Aí você sai na rua e ouve piano sendo tocado em alguma das casas", afirma ela. Fernanda vem "matutando" uma ideia - e já até compartilhou o plano com alguns vizinhos: sonha com um concerto na rua, reunindo pianos e pianistas da Sebastião Velho. Mais difícil do que conciliar agendas e conseguir autorizações nas burocracias municipais, só mesmo transportar os instrumentos todos de dentro dos apartamentos para o meio da rua.

Há um pouco de saudosismo, é verdade. "São Paulo já foi considerada a capital do piano. Isso, na época em que o Mario de Andrade (1893-1945) era secretário de Cultura (o escritor fundou e dirigiu, nos anos 1930, o Departamento de Cultura da cidade). Havia uma 'pianolatria' em São Paulo", diz Grajew.

Mas, pelo menos por enquanto, chamar a Sebastião Velho de Sebastião Bach é apenas brincadeira: ninguém ali cogita organizar um abaixo-assinado propondo a mudança oficial. A propósito, São Paulo já tem dois logradouros em homenagem ao compositor teutônico. No Tucuruvi, zona norte da cidade, há a Rua Sebastian Bach. Na Lapa, zona oeste, fica a Sebastião Bach.

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Homenagem bandeirante. Morto em 1684, um ano antes do nascimento do xará alemão, Sebastião Velho não tinha nada a ver com arte. Era um rude bandeirante, cujo maior feito foi ter integrado, em 1628, a bandeira do Guairá, ao lado de Mateus Grou. Consta que 11 aldeias compunham a província indígena do Guairá, às margens dos Rios Paranapanema, Itararé e Iguaçu. Esses povoamentos foram aos poucos vencidos pelos bandeirantes, sobretudo Manuel Preto e Raposo Tavares.

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