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Cansei do carnaval de SP, viva o carnaval de SP!

<B>CRÔNICA</b>

Por Edison Veiga
Atualização:

 Foto: Vitorio Maddarena Jr.

Faz seis ou sete anos que eu, folião bissexto na infância interiorana, apaixonei-me pelo carnaval. Já estava rolando o revival dos festejos momescos de rua aqui em São Paulo e animei-me a conferir um bloco de Pinheiros, cujo cordão sairia a poucas quadras de minha casa.

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Foi o máximo.

Voltei a ser criança cantarolando clássicas marchinhas - sem nenhuma preocupação em soar politicamente correto, confesso -, vesti-me com a roupa mais deselegante e confortável do armário, tomei cervejas na rua.

No ano seguinte, ao repetir o mesmo programa, fiquei com uma certa ciumeira: o que tinha acontecido que tanta gente havia descoberto o meu bloco? O cordão sossegado transformou-se numa pequena batalha de ir e vir. O conforto da brincadeira virou um empurra-empurra. O ápice da negatividade foi abortar o cortejo pela metade para enfrentar uma fila daquele fast-food pseudo-árabe quase onipresente e muito barato. Foi uma luta pelo espaço para conseguir saciar a fome com umas esfirras.

De lá para cá, apesar desses dissabores - e dos gases estomacais advindos de tais esfirras -, nunca deixei de curtir o redivivo carnaval de rua de São Paulo. E, garanto, jamais irei condená-lo pela sujeira consequente, pelas eventuais confusões advindas das grandes aglomerações, pela chatinha onda do politicamente correto. Criticá-lo, sim; condená-lo, nunca. O carnaval de rua é resultado da contemporânea e salutar onda de apropriação do espaço público - vêm na mesma toada as ciclovias, os parklets, os piqueniques em praças e parques, as ruas abertas às pessoas aos fins de semana.

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Então, com todos os defeitos, o carnaval de rua é lindo.

Mas, desnecessário frisar, a coisa cresceu. Muito. E nos últimos anos eu fiquei meio triste porque o carnaval a poucos quarteirões de casa - moro na boêmia, barulhenta e ao mesmo tempo aprazível Vila Madalena - deixou de ser aquele que eu conheci. Virou uma pantomina dos blocos de Salvador. Virou uma muvuca, uma coleção de grandes shows, um caô - lindo, mas diferente daquele carnaval de rua que me encantou alguns anos atrás.

Cansei. Devo estar ficando velho.

Não, não vou sair em marcha inútil pedindo o fim do carnaval de rua de São Paulo. Porque mesmo que, como morador, o barulho me incomode, a sujeira me incomode, as interdições e o trânsito decorrente me sejam estorvos, seguirei defendendo sempre a existência de eventos como este - e que sejam o mais livres quanto possível, sem muitas amarras que não combinam com a própria essência do carnavalizar.

Neste 2017 decidi, entretanto, optar por um plano de salutar convivência com a festança momesca que toma conta do meu bairro. Viajei para fora de São Paulo nas duas primeiras semanas do pré-carnaval. Na terceira, fiquei por aqui: mas tanto no sábado quanto no domingo fui curtir blocos menores em outros bairros - Pompeia e Vila Romana, respectivamente; e estes me deram saudades daquela festança de seis ou sete anos atrás.

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No carnaval propriamente dito vou viajar. Estarei nos confins da Amazônia, em um lugar onde nem celular pega. (O paraíso na Terra. Se o mundo acabar enquanto eu estiver lá, certamente só ficarei sabendo quando retornar a Manaus.)

Mas que ninguém use estas parcas linhas para criticar o carnaval de rua. Que ninguém se apóie nestes escritos para condená-lo. O carnaval é incrível, necessário e prescinde de regras. Viva o carnaval de São Paulo.

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