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Belas Artes se torna patrimônio cultural do Estado

Tradicional cinema da Rua da Consolação teve processo estadual concluído

Por Edison Veiga
Atualização:

 Foto: Wether Santana/ Estadão

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Em resolução publicada no Diário Oficial do Estado desta quinta, a Secretaria de Estado da Cultura reconhece decisões do Condephaat, o órgão estadual de proteção ao patrimônio, e declara, a partir de então, o Cine Belas Artes - atualmente Caixa Belas Artes - protegido.

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De acordo com a publicação - que lembra que o Condephaat analisou o caso em duas sessões, uma em outubro de 2012 e outra em agosto de 2013 -, ao cinema se atribui "papel de relevo na formação de quadros expressivos da produção cinematográfica do Cinema Novo Brasileiro", tendo a casa funcionado "durante sua história como espaço de formação qualificada de público, importante para a cinefilia e cinematografia paulistas". O documento também reconhece que "o edifício abrigou, na sala subterrânea, o primeiro local de reuniões da Sociedade Amigos da Cinemateca, cuja atuação para a valorização do cinema nacional é inegável" e que "se trata de um lugar de memória no panorama da cinematografia paulista".

A partir desta quinta, portanto, o Belas Artes é patrimônio cultural do Estado. A proteção se limita à fachada frontal do cinema, com destaque para a marquise existente sobre a calçada da Consolação e os brises.

Fechamento e abertura. Em 17 de março de 2011, com uma sessão de A Doce Vida, de Federico Fellini, o Belas Artes fechou suas portas. Aparentemente, chegava ao fim uma história iniciada em 1943, sob o nome Cine Ritz - o endereço só passaria a se chamar Belas Artes em 1967 e viveria seu auge nos anos 1980, quando era programado pela produtora francesa Gaumont.

Sem o patrocínio do banco HSBC, o encerramento das atividades teve seu estopim por desentendimentos financeiros entre o dono do cinema, André Sturm, e o proprietário do imóvel, Flávio Maluf. Este decidiu reajustar o valor cobrado mensalmente como aluguel, de R$ 63 mil para R$ 150 mil. Sturm chegou a propor R$ 85 mil, mas a oferta foi recusada. As chaves foram devolvidas, portanto, em março de 2011.

A mobilização dos paulistanos, entretanto, começou antes disso. Com a iminência do fim do patrocínio, no segundo semestre de 2010, quinze restaurantes da cidade incentivavam seus clientes a doarem R$ 5 além da conta, para reverter ao cinema. Foi uma ideia da proprietária do La Casserole, Marie France Henry (foto abaixo).

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 Foto: Felipe Rau/ Estadão

Com a doação, os clientes dos restaurantes ganhavam um ingresso para assistir a um filme no Belas Artes. Depois da sessão, o bilhete carimbado dava direito a uma sobremesa cortesia em qualquer um dos restaurantes participantes. Não há um valor consolidado de quanto a ação rendeu ao Belas Artes.

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Nas redes sociais, a mobilização também foi grande. Grupos debatiam a importância do cinema para a história de São Paulo, alguns defendiam seu tombamento por órgãos de proteção ao patrimônio, ações, passeatas e abaixo-assinados eram organizados. Entre idas e vindas dos órgãos municipal e estadual de proteção ao patrimônio e até uma CPI aberta pela Câmara para debater a questão, o imóvel teve sua fachada reconhecida pelo conselho pela primeira vez em 2012. Mas permanecia fechado. Vazio, deteriorando-se e transformado em alvo de pichações - uma delas, inclusive, por ativismo, conforme o próprio autor explicou ao Estado na época: confira neste link.

Em um dos primeiros dias à frente do Executivo, em janeiro de 2013, o prefeito Fernando Haddad (PT) declarou que a questão do Belas Artes seria uma das prioridades da Secretaria da Cultura. De acordo com os envolvidos, o papel da Prefeitura foi de auxiliar na busca por um novo patrocinador - no caso, a Caixa - e mediar o acordo entre proprietários do imóvel e do cinema. O novo valor do aluguel não foi divulgado - de acordo com os envolvidos, por causa de uma cláusula de confidencialidade.

Pelo contrato, o banco pagou R$ 1,8 milhão pelo primeiro ano de patrocínio, renovável por outros cinco anos. O Belas Artes também arrecadou fundos com uma bem-sucedida campanha de venda de poltronas cativas - por R$ 3 mil, cinéfilos têm seus nomes estampados em uma das cadeiras e podem assistir a uma sessão por dia, com acompanhante, durante um ano.

CRONOLOGIA

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 Foto: Acervo Estadão

1943: Cine Ritz é aberto 1952: Local passa a ser chamado de Cine Trianon 1967: Mudança de nome: vira Cine Belas Artes, sob o slogan Espetáculo, Polêmica e Cultura 1981: Inspeção: Prefeitura aponta irregularidades no prédio, como salas revestidas com material combustível e poucas saídas de emergência. Local não é fechado 1982: Fogo: é alvo de incêndio criminoso 2004: Um ano após André Sturm assumir o comando do cinema, o Belas Artes passa por uma grande reforma 2010: Perde patrocínio de banco HSBC. Dono pede imóvel de volta 2011: Em março, é realizada a última sessão. No segundo semestre, Conpresp e Condephaat negam tombamento. Justiça manda reabrir processos 2012: Câmara Municipal abre CPI do Belas Artes. Em outubro, Condephaat vota favorável ao tombamento da fachada, mas cinema segue fechado e prédio, abandonado 2014: Com intermédio da prefeitura, Caixa passa a patrocinar o Belas Artes. Cinema reabre

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