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"As coisas estão avançando. Devagar, devagarinho, que nem a minha música"

Em entrevista ao blog, Martinho da Vila comenta sobre a imagem do negro no País

Por Edison Veiga
Atualização:

 Foto: Daniel Teixeira/ Estadão

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Aos 77 anos, Martinho da Vila é, pela primeira vez na carreira, homenageado como escritor - e não como músico. Ele é o nome do ano da Flink Sampa - Festa do Conhecimento, Literatura e Cultura Negra, que começa nesta sexta (12) no Memorial da América Latina. No evento, Martinho lança o livro Barra, Vilas & Amores.

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Martinho da Vila: sai o músico e entra o escritor?

Com Barra, Vilas & Amores já são 14 livros. São variados, tem infantis, infanto-juvenis, romances... Mas como a maioria das pessoas não sabe dizer o nome de nem sequer um escritor brasileiro vivo, ninguém conhece esse meu lado. O lado da literatura é desconhecido no popular, fica restrito às pessoas que são ligadas à literatura. Para mim, os livros nascem em paralelo com a música, escrevo quando tenho vontade de escrever. E estou feliz porque, pela primeira vez, serei homenageado por um evento literário.

Como é ser negro no Brasil hoje? Diminuiu o preconceito?

Mudou muito. Quando eu comecei a surgir para o grande público, você não tinha uma capa de revista com negro, não se via um anúncio comercial com negro. Isso tudo já foi mudado. Lembro-me que na primeira vez que fui aos Estados Unidos, o que mais estranhei foi ver negro nos luminosos, nos cartazes, coisa que eu nunca tinha visto aqui. Ou seja: as coisas estão avançando. Devagar, devagarinho, que nem a minha música, mas avançando. Hoje já se discute História da África nas escolas, a música negra também é aprendida nas universidades, o estudo do samba, da literatura negra, do negro na cultura brasileira.

Quando está escrevendo ou compondo, você se preocupa com a situação do negro?

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Não é função minha. Minha função é criar. A análise deve ser de quem faz crítica, de quem faz história. Eu não faço música para ser uma coisa, eu faço música. Ponto. Depois, se ela serve para uma coisa ou para outra, isso é consequência. As músicas revolucionárias não foram feitas com esse objetivo, foram usadas para isso.

De que forma um evento como a Flink ajuda a imagem do negro no País?

Com tantos escritores negros de tantos países, é uma maneira de demonstrar importância, ganhar espaço. A mídia, que não costuma dar muito espaço para o tema, acaba mostrando. É o que precisa. E também acho muito importante termos cada vez mais eventos literários no País. Antes, quase não havia. Hoje tem muitos, muitos, muitos.

Você está preparando um novo show, mais intimista, aqui para São Paulo... (As apresentações estão marcadas para 18 e 19 de dezembro, no Teatro J. Safra.)

Sim, é isso mesmo. Pela primeira vez vou fazer um show praticamente sozinho, tocando vários instrumentos e até caixa de fósforo. São tantos anos de carreira que eu vou ficando meio sem graça de fazer sempre a mesma coisa, aí acabo inventando novas formas, senão nem eu aguento mais. Além disso, o show também terá uma participação, em parte dele, do violonista Gabriel de Aquino, filho do João de Aquino, que já tocou muito comigo, e sobrinho-neto do grande Baden Powell.

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