Edison Veiga
30 de agosto de 2010 | 00h05
O princípio é simples: escritores são (ou deveriam ser) conhecidos pelo que escrevem. Assim, esporadicamente este blog irá publicar pequenas entrevistas com eles, feitas por escrito.
Inaugura a série o poeta Fabrício Carpinejar, blogueiro e twitteiro inveterado – que, com seu canivete, apontou o lápis imediatamente após receber o convite para participar.
Como você se inventou poeta?
Quando aceitei que nunca seria um verso livre. Eu sou rimado para ser decorado pelos filhos.
Em qual biblioteca você moraria? Por quê?
A do meu pai, porque os livros já estão sublinhados. Leria um livro novo como se tivesse esquecido.
Por que os blogs? Por que o twitter?
São meus cadernos de caligrafia, para a letra ser sua própria linha.
O real cabe na sua poesia? De que maneira?
A poesia é o único cavalo que corre mais depois de quebrar a perna.
Onde fica a outra boca onde a palavra é falível?
A palavra nunca é de quem a disse, depende muito mais de quem a ouviu.
Por que a vida amou a morte mais do que havia para morrer?
Brincar de esconde-esconde nos prepara para a transcendência ou para a delação.
Você acredita nos que não gostam de poesia?
Quando eu entendo deixo de acreditar.
Qual é seu ritual de escrita? Há um?
Dar volta na quadra. Na terceira, fico enjoado do próprio pensamento e escrevo.
O poema acaba quando pronto?
Não acaba, é abandonado. O poema é vizinho do silêncio, nunca é o silêncio. Poema bom é incompleto. Poema ruim é o que não deixa espaço para mais nada.
Que pergunta você faria, por escrito, ao Carpinejar? E o que responderia, se fosse (for) ele?
Você poderia ser mais fácil?
Só consigo enxergar a pergunta no escuro.
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