Mais de 12 meses após a tragédia da boate Kiss, os vereadores paulistanos decidiram abrir hoje à tarde, na volta do recesso, uma CPI para investigar o funcionamento das casas noturnas de São Paulo. Por outro lado, a base governista do prefeito Fernando Haddad (PT) minou a articulação do oposicionista Gilberto Natalini (PV), que tentava instalar uma comissão de inquérito para investigar o escândalo da máfia do ISS na Prefeitura - um grupo de auditores desviou mais de R$ 500 milhões dos cofres públicos entre 2005 e 2012, segundo o Ministério Público Estadual.
A CPI das casas noturnas foi proposta pelo vereador evangélico Eduardo Tuma (PSDB), líder da Frente Parlamentar Cristã, que agrega 16 dos 55 vereadores do Legislativo paulistano. Nos próximos 12 meses a comissão quer analisar a documentação e verificar as condições de segurança de mais de 800 boates e casas noturnas da cidade.
"Acho péssima essa CPI. Não tem cabimento. Nós deveríamos investigar a máfia dos auditores", disparou Ricardo Young, líder do PPS, contrário à CPI das casas noturnas. O outro vereador que foi contra a investigação foi Toninho Vespoli (PSOL). "Toda vez que vemos esse tipo de investigação surgem denúncias de achaques contra empresários. Não deveria ser o foco neste momento. Acho que a Casa tinha a obrigação de acompanhar de perto da investigação da máfia do ISS", argumentou Vespoli.
Natalini vai tentar reapresentar o pedido de CPI na próxima terça-feira. Mas admite que a chance de ser aprovada é nula. "O governo não vai deixar isso passar de jeito nenhum. Tenho 19 assinaturas, precisava de 28", contou ao Estado o vereador. A Câmara precisa ter pelo menos duas CPIs em funcionamento - a outra, que está instalada desde 2013 e acaba no próximo dia 13, é a CPI dos Transportes, do vereador Paulo Fiorilo (PT).
O governo também tenta minar o pedido de CPI para investigar a ocupação das Zonas de Interesse Social (Zeis), feito pelo líder do PSD e ex-presidente da Câmara, José Police Neto. Neste caso a comissão iria apurar como foi a ocupação dos terrenos da cidade demarcados no Plano Diretor de 2002 como de interesse social - existe a suspeita de que empreendimentos de luxo foram construídos em áreas reservadas para prédios populares da Cohab e da CDHU.
DEFESA
Líder do PSDB, Floriano Pesaro defendeu a investigação das condições de funcionamento das casas noturnas. "A CPI quer verificar quais são os obstáculos que surgem na hora da liberação de um alvará de funcionamento e acabar com a corrupção nessa área", defendeu o tucano.
"Um ano após a tragédia (de Santa Maria) não vimos nenhum avanço em na capital paulista relação à burocracia, à corrupção que existe na concessão de alvarás e licenças de funcionamento. Queremos que a CPI do vereador Tuma investigue quais são esses problemas", acrescentou Pesaro.
PLANO DIRETOR
Em seu comunicado na volta do recesso, o líder de governo Arselino Tatto (PT) informou aos vereadores que a prioridade da gestão Fernando Haddad (PT) no primeiro semestre de 2012 é votar a revisão do Plano Diretor - a proposta cria novas regras para o crescimento da cidade até 2024. Hoje Haddad se reúne com os líderes de bancada do Legislativo para reforçar o pedido.
"Votar o Plano Diretor até junho é a prioridade máxima. É a chance de todos os partidos, independentemente de ser oposição ou governo, estarem com o foco em criar regras que finalmente possam ordenar o crescimento de São Paulo e mudar o que ocorreu nos últimos anos", defendeu Tatto.
Relator do Plano Diretor, o vereador Nabil Bonduki (PT) avalia que três meses é um prazo razoável para que a proposta seja debatida e votada. "Estamos incorporando as propostas recebidas pela população na consolidação do texto final", disse Bonduki, que recebeu mais de 1.000 propostas em 43 audiências públicas realizadas no ano passado.