Coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e à frente dos principais protestos que aconteceram em São Paulo neste ano, o filósofo Guilherme Boulos, de 32 anos, admite que a entidade vai poder ter candidatos nas eleições de 2014. Ontem, durante parte do trajeto de 3 quilômetros entre o Masp e a Avenida Paulista, na 31ª manifestação da entidade no ano na capital paulista (média de uma por semana), Boulos falou ao Estado que o MTST não possuí qualquer financiamento de partido ou sindicato.
"Hoje fizemos um rateio de R$ 1 para pagar alguns ônibus. Mas muitas pessoas vieram do Metrô, com seu dinheiro próprio. Existe uma consciência de que é necessário lutar pelo direito à moradia em uma cidade desigual como São Paulo", argumentou Boulos. Atualmente o movimento tem 16 ocupações na Região Metropolitana, onde moram cerca de 26 mil pessoas.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
1)O protesto de hoje (ontem) tem como alvo só a reintegração na ocupação Portal do Povo?
R: "Não. Temos outros compromissos não cumpridos pelo governo municipal com a gente, em relação às ocupações Dona Deda, Capadócia e Cidade Tiradentes."
2) O MP hoje já alertou a Prefeitura hoje de que não poderá haver furo na fila do cadastro da Cohab. O que você achou?
R: "Acho que o promotor Maurício (Ribeiro Lopes) foi muito infeliz. Ele deu a entender que nós estamos furando alguma fila. Acho que o MP precisa ter bom senso para ver que a fila que já existe hoje não é atendida."
3)O MTST foi protagonista dos protestos de 2014 na capital paulista. E nas eleições, vocês vão apoiar algum candidato?
R: "Isso será decidido agora, em um seminário que vamos fazer com todas as lideranças e militantes. Podemos sim eventualmente apoiar editorialmente uma candidatura (à presidência), como fizemos em 2010 com o Plínio de Arruda Sampaio. Não existe nenhum problema nisso."
4) A tendência é vocês apoiarem a Luciana Genro do PSOL?
R: "Não tem nada decidido ainda em relação a isso. Temos o nosso seminário para fazer essa discussão."
5) O MTST lançou uma revista, a Territórios Transversais, vendida por R$ 19,90 na internet. Quem financiou o projeto?
R: "A revista foi financiada por meio de uma colaboração (de R$ 50), pedida voluntariamente em nossa página do Facebook. Foi com o dinheiro desses simpatizantes e voluntários que fizemos a revista."
6) Existe algum outro tipo de financiamento para o MTST, de partido ou sindicato?
R: "Não existe. Somos autofinanciáveis. Não cobramos mensalidades dos nossos associados. Tudo é feito de forma voluntária e colaborativa. O que existe é uma mobilização das pessoas pelo seu direito à moradia."
7) As pessoas não se mobilizam para poder assinar as listas de presenças e conseguir, dessa forma, pontuação para o Minha Casa Minha Vida....
R: "Não é pela pontuação. As pessoas estão conscientes de que precisam lutar para conseguir moradia em São Paulo. Elas sabem que precisam batalhar para fazer as coisas acontecerem."