É um prazer conhecer cidades a pé. Caminhando, dá para andar pelo centro histórico inteiro e sentir o astral do lugar. Eu estive no Rio e em Curitiba, numa mesma semana. A proximidade das caminhadas me fez pensar em como dois lugares podem ser tão diferentes e ao mesmo tempo tão agradáveis.
O centro do Rio é um mergulho na história do Brasil. A cada quarteirão, uma atração e uma lembrança do nosso imaginário coletivo. O Teatro Municipal, a Biblioteca Nacional, a Cinelândia, a Rua do Ouvidor...Em Curitiba, a região central é muito mais nova e chama a atenção menos pelos marcos arquitetônicos e mais pelo conjunto, como o lindo largo da Ordem que nos lembrar de um tempo em que alguém resolveu plantar uma cidade em meio às araucárias.
No Rio, há papéis de embalagem e bitucas jogados no chão. O cheiro é de gás e gente e pedra e maresia. As calçadas de Curitiba são limpas, limpíssimas.
O comércio do centro do Rio tem de tudo, até uma loja de chapéus num conjunto arquitetônico que deve ter 200 anos de idade e está muito bem preservado. Em Curitiba, entro na Rua 24 horas, uma invenção que não é shopping nem é rua, mas tem gente a qualquer hora e é bem agradável.
No Rio, sento com reverência em meio aos espelhos e lustres da Confeitaria Colombo, de 1894, e penso em Machado de Assis,espartilhos e polainas. Em Curitiba, procurei o café da livraria Ghignone. Não encontrei, me disseram que fechou e vou tomar um café num quiosque simpático no calçadão, enquanto vejo um mini-torcedor do Atlético Paranaense. Penso em Paulo Leminski.
As ruas do Rio são uma soma de tempos históricos, de construções que se sobrepõem, de morros que não existem mais. As ruas de Curitiba exprimem um plano concebido e executado ao longo de décadas. Penso em Pereira Passos e Jaime Lerner.
No Rio, anda-se a pé, de metrô, ônibus, carros, taxis e o que mais houver. Agora vai ressurgir o bonde, com o nome bonito de VLT. Em Curitiba, os ônibus andam numa via exclusiva, com aquela estação de embarque que inspirou tantas outras cidades e que agora começa a parecer quente demais e pequena demais para tanta gente.
No Rio, depois de caminhar horas, chego à Praça Mauá. Contemplo as camadas do tempo: o Edifício A Noite, que acomodou a Radio Nacional, o antigo Palacete D. João VI que virou o museu MAR, um edifício de escritórios moderno ao lado de um prédio da Marinha, em pedra. A cereja desse bolo é o moderníssimo - e estranhíssimo - Museu do Amanhã. A praça está cheia, uma fila de turistas esperando pela abertura do museu. Converso com a simpática senhora que trabalha no Terminal Marítimo. Vejo o mar e penso em como é bom caminhar no Rio!
Em Curitiba depois de horas de caminhada, chego à Praça Osório. Vejo dois homens conversando. Perto deles, uma moça sentada sozinha, olhando o movimento e pensando na vida, sob uma sombra fresquinha. Sento num banco tranqüilo e penso em como é bom caminhar em Curitiba!
Fotos: Mauro Calliari
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