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Espaços públicos, caminhadas e urbanidade.

Ghost bike. A bicicleta branca avisa: aqui houve mais um atropelamento que poderia ter sido evitado.

Por Mauro Calliari
Atualização:

Instalada ontem na Faria Lima, a bicicleta branca homenageia o ciclista atropelado. Foto: Roberta Godinho

José Cantil de Queiroz, 57, avô, corintiano, vigia noturno, passou a usar cada vez mais a bicicleta nos últimos meses. Estava feliz com a ideia de poder fazer exercícios, passear pela cidade e se deslocar ao mesmo tempo.

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No dia 21 de setembro, ele pegou a bicicleta para ir buscar remédios. Na volta, na ciclovia da Faria Lima foi atropelado por um taxi quando cruzava a avenida Rebouças. Sofreu traumatismo craniano, foi internado no HC, chegou a ser operado, mas não resistiu. No domingo, 24 de setembro, teve morte cerebral. José havia doado em vida órgãos que ajudaram oito pessoas e foi enterrado em Itapevi, na Grande São Paulo. Tinha 57 anos, três filhos e três netos.

Atendimento no dia do acidente. Foto: Roberta Godinho 21/9/17

As circunstâncias do acidente ainda não foram esclarecidas e, a julgar pelo histórico, talvez nunca sejam. As estatísticas, porém, dão conta que em setembro, além de José, outro ciclista também foi atropelado. No mesmo mês, 34 pedestres também perderam a vida. Todos atropelados. São 337 pessoas desde o início do ano, ou seja 7% a mais que no mesmo período do ano passado.

São pessoas que circulavam pela cidade em direção a seus trabalhos, seus encontros, suas casas, suas famílias.

Como o José, que ontem foi lembrado num lindo ato na Avenida Faria Lima. Aos familiares, juntaram-se várias pessoas, ciclistas de vários lugares diferentes, e todos penduraram uma bicicleta branca num poste, a poucos metros do local do acidente.

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A família e os bikers, na homenagem. Foto: M.Calliari

São pessoas e movimentos, como os Bike Anjos e Bike Anjas, Bike Zona Leste e Bike Zona Oeste, que se mobilizaram e apareceram no fim da tarde de um sábado, para prestar homenagem a alguém que se foi e que organizam esse ritual que chamam de "ghost bike".

A Ghost Bike

A bicicleta branca é uma homenagem a quem perdeu a vida no trânsito.

E segundo JP Amaral, membro da rede Bike Anjo , também é uma maneira de sensibilizar a mídia, os gestores público e os motoristas sobre os cuidados que se deve ter com o ciclista. Ou seja, é um alerta para os motoristas para que voltem a prestar atenção nos limites de velocidade e no que acontece em torno de seus carros. Para que nos lembremos que há algo bem mais importante que o minuto que vamos perder no sinal.

A bicicleta branca também deveria ser um lembrete para a Prefeitura, que poderia e deveria ser muito mais enfática na condenação de infrações como essa e no redesenho de cruzamentos perigosos, que assustam quem anda a pé ou de bicicleta.

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No caso do cruzamento da Rebouças com a Faria Lima, já houve proposta de ciclistas feitas para a CET e prefeitura regional de redesenhar as faixas e melhorar a visibilidade dos sinais, até agora ignoradas.

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As cidades que se querem modernas não podem se conformar em ver atropelamentos que poderiam ser evitados. Campanhas de comunicação têm sido feitas, mas seu resultado depende de outras ações mais eficazes: reeducação de motoristas, a garantia da punição aos infratores, o redesenho de trechos problemáticos, melhoria das faixas e tempos semafóricos.

O que talvez faça mais falta, porém, é ouvirmos das autoridades como o prefeito ou do secretário de mobilidade e transportes, o compromisso veemente em evitar novas tragédias como essa, em busca da Visão Zero - nenhum atropelamento na cidade e o fim da necessidade das ghost bikes. Não é o tipo de declaração que temos ouvido, infelizmente.

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