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Espaços públicos, caminhadas e urbanidade.

Como transformar as estações de transporte de São Paulo em bons espaços públicos.

Por Mauro Calliari
Atualização:

Estação da Luz 

 

Em São Paulo, são feitas mais de 12 milhões de viagens por dia em trens, metrôs e ônibus. Grande parte desses deslocamentos passa pelas estações da CPTM, do metrô ou pelos terminais de ônibus.

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Infelizmente, esses nós de transporte são apenas isso, nós - espaços de passagem, difíceis de acessar, com pouco conforto para quem espera, pouca ou nenhuma oferta de comida, muitas vezes sem nem lugares para sentar.

Não precisa ser assim. Outro dia, assisti a uma apresentação na FAU-USP do arquiteto Rodrigo Morganti. Ele mostrou como, no mundo todo, há várias iniciativas para dotar as estações ferroviárias de urbanidade. Elas devem ser confortáveis sem se encapsularem em si mesmas, como os aeroportos, devem respeitar sua identidade e, claro, serem eficientes, mas lembrando que os passageiros são pessoas que passam um tempo grande lá dentro.

Veja, por exemplo, essa estação de trem em Leipzig, na Alemanha:

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Estação Central de Leipzig, Alemanha. 

Dá para ver direitinho o maravilhoso prédio original da gare, que foi sendo renovado ao longo do tempo e hoje é muito mais do que uma estação de trem. É um lugar de passeio, compras e encontros. Melhor que tudo, o passageiro sai da estação e está no nível da rua, no centro da cidade.

Outro exemplo bom é essa aqui em Londres, a King´s Cross, que recebe trens que vêm e vão da região nordeste da Inglaterra e também tem uma enorme estação de metrô. Os fãs de Harry Poter também sabem que dali sai um trem para Hogwarts, especificamente da plataforma 9 e ¾,

Frente da Estação de King´s Cross, em Londres. 

Essa imagem mostra que mesmo numa cidade densamente construída, as estações mais antigas podem se modernizar. Não seria nem necessário ter lojas chiques - na verdade, há quem diga que as lojas são chiques demais - o que se busca é pensar na experiência de quem usa as estações.

Esses são bons exemplos que poderiam inspirar as nossas estações de transportes. As pessoas passam tanto tempo nessas conexões que elas deveriam de fato se transformar em espaços públicos que vão além da função de levar e trazer.

Há muito a ser feito. Mesmo as melhores estações de transporte urbano de São Paulo estão muito longe de oferecerem uma ótima experiência.

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Estação da Luz, por exemplo, tem um prédio maravilhoso, está na frente do primeiro parque de São Paulo, é aberta para a cidade e tem até um piano no saguão, uma simpática iniciativa para quem passa por ali e quer testar seus dotes artísticos. Mas falta funcionalidade nos acessos (aquelas grades parecem estar conduzindo rebanhos, não pessoas), faltam lugares para comer, faltam cadeiras e bancos, falta qualidade.

O Terminal da Lapa, que é considerado um dos melhores terminais de ônibus da cidade, com um projeto arquitetônico premiado, é um exemplo que demonstra como dá para melhorar muito o lugar com algum cuidado. Há bancos para sentar, há lugares para comer, o acesso para o bairro é bem razoável, no nível da rua e até os banheiros são limpos.

Não é King´s Cross, mas já torna a experiência de esperar pelo próximo ônibus um pouco mais estimulante.

Terminal de ônibus da Lapa. Foto: Estadão

Já as estações de metrô são bem diferentes umas das outras. Algumas mais antigas se integram relativamente bem á cidade, criam espaços públicos vitais e com algum conforto. Outras, porém, parecem ter deixado de lado a preocupação com o acesso, com a integração com a cidade e com a possibilidade de pessoas terem que ficar lá por algum tempo. A Estação Pinheiros, por exemplo, um grande ponto de integração entre o trem, metrô e ônibus, não oferece sequer bancos para sentar. É muito pouco para lugares cada vez mais importantes na cidade e na vida das pessoas.

Pedestres se espremem para sair da Estação Pinheiros. Foto: Estadão

 

 

 

Fotos. Luz: Site da Estação da Luz e Museu da Língua Portuguesa. Leipzig: Site da Estação. King´s Cross: Site da Estação. Terminal da Lapa e Pinheiros: Mauro Calliari

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