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Espaços públicos, caminhadas e urbanidade.

Clima. Como São Paulo pode deixar de emitir 508 toneladas de CO2 por dia? Trocando o carro pelo pé em metade das viagens curtas.

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Por Mauro Calliari
Atualização:

Mulher voltando das compras em Pinheiros, São Paulo. Foto: Mauro Calliari

 

O aquecimento global precisa ser combatido nas cidades também

 

Há questões ligadas ao clima que precisam da ação coordenada de governos, coibindo queimadas, fiscalizando e estabelecendo regras de emissões.

 

Há outras questões, porém, que dependem muito da soma de mudanças de hábitos das pessoas de pessoas, principalmente nas cidades. Reduzir o uso do veículo individual, por exemplo, é algo que a gente pode começar a fazer já.

 

Transporte individual é o mais poluente

 

Cada vez que alguém anda um quilômetro num carro movido a gasolina, emite 107 gramas de CO2, além de outros gases de efeito estufa, de acordo com o Transport and Climate Global Status Report 2018.

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Uma ida e volta até uma padaria a um quilômetro de distância, portanto, joga 214 gramas de CO2 no ar. Se for a pé ou de bicicleta, a emissão cai para zero.

 

O que aconteceria se trocássemos uma parte das viagens de carro pelo pé em distâncias curtas

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Na Grande São Paulo, nós fazemos 41,3 milhões de viagens por dia (OD 2017). Dessas, 11,3 milhões são de carro. O incrível é que, de acordo com estudo publicado no portal Mobilize, quase 42% das viagens de carro são feitas em distâncias muito curtas, até 2 km.

 

Se apenas metade dessas pessoa que fazem viagens curtas tiverem condições de largar o carro e ir a pé, seriam 508 toneladas de CO2 a menos. Por dia!

 

A conta que fiz é a seguinte: 11,3 milhões de viagens de carro/dia x 42% (o número de viagens feitas em automóvel até destinos a menos de 2km) x 50% de pessoas que estariam dispostas a trocar o carro pelo pé em viagens curtas x 214 gramas (supondo duas viagens, uma de ida e outra de volta até um destino a 1 km, em média). São premissas que podem ser rediscutidas, mas serve para ter uma ideia de quanto uma mudança nos hábitos individuais em grande escala teria efeito diante de uma população tão grande.

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A possível convivência de pessoas diferentes no mesmo espaço. Foto: M.Calliari

O que dá para fazer a 1 km de sua casa?

 

Sua casa fica perto de farmácia, padaria, escola, papelaria, açougue, feira, praça, ponto de ônibus?

 

Vale fazer o esforço de ir a pé.

 

Muita gente reclama que as calçadas de São Paulo não são boas, que é difícil atravessar as ruas, etc. São reclamações que procedem. Andar em São Paulo muitas vezes não é fácil, mas quanto mais pessoas andarem e se mobilizarem e cobrarem, melhor.

 

A prefeitura anunciou que vai gastar 400 milhões de reais para reformar calçadas com maiores fluxos até o ano que vem. Além disso, vale lembrar que a lei estabelece que uma calçada é responsabilidade do morador. Ou seja, é chato, mas temos que buscar essa melhoria, cobrando prefeitura, vizinhos e até estimulando a fiscalização.

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A questão, então, passa a ser como melhorar a acessibilidade aos serviços e produtos que estão perto de casa.

 

Levar um filho até a escola, ir comprar pão, passar na farmácia para pegar uma receita, várias dessas coisas podem ser feitas facilmente. Em 15 minutos, andando, dá para fazer 1 quilômetro.

 

Uma ida e volta até a farmácia em 30 minutos, com direito a algum exercício, a chance de encontrar vizinhos e pensar um pouco na vida pode ser um programa digno, não?

 

E nas distâncias mais longas?

 

Em distâncias médias, até uns 5km, considere a bicicleta. Existe um excelente relatório do Cebrap sobre o impacto do aumento do uso da bicicleta nas emissões de poluentes.

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Para distâncias maiores, não tenha dúvida, troque o carro pelo ônibus (até metade das emissões por passageiro, dependendo do estudo). Quando vierem os ônibus elétricos, previstos na licitação de São Paulo, melhor ainda.

 

E se estiver perto do metrô ou trem, dê preferência. Eles emitem no mínimo quatro vezes menos CO2 por passageiro do que um automóvel.

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