Foto do(a) blog

Na página de blogs do Estadão você pode escolher pelo assunto ou blog que mais gosta e conferir conteúdos com profundidade e credibilidade. Clique e acesse os conteúdos exclusivos do jornal mais tradicional do Brasil!

Vereadores de SP querem liberar cerveja nos estádios

PUBLICIDADE

Por Bruno Ribeiro
Atualização:

A exemplo do que já ocorreu em Minas Gerais, os vereadores de São Paulo se preparam para votar a partir desta quarta-feira, 26, projeto que libera a venda de cerveja nos estádios de futebol da cidade. A proposta atende lobby dos times da capital paulista, que esperam ver crescer a rentabilidade de suas novas arenas. O texto pode colocado em votação mesmo sem que as lideranças das bancadas dos partidos façam acordo, fato incomum no legislativo municipal.

O torcedor ansioso para voltar a assistir a partidas na arquibancada com uma gelada na mão, no entanto, não deve se animar. O projeto, do vereador Toninho Paiva (PR), é adaptado à era da "gourmetização" do futebol: "A venda e o consumo de cerveja em ambientes esportivos são admitidos, exclusivamente:nos bares, lanchonetes, camarotes e áreas VIP dos Estádios de Futebol, ou locais especialmente designados para essa finalidade, vedada a venda ou distribuição gratuita fora desses locais", diz o texto que será levado ao Plenário. Ou seja: não vale beber na arquibancada. "Não tinha nem reparado nisso. Talvez, entre a primeira ou a segunda votação, ou talvez na regulamentação, a gente mude essa parte para incluir a arquibancada", disse Paiva, ao ser questionado sobre o assunto.

Além de dizer que a proposta "vai gerar empregos", o vereador defende o projeto dizendo que torcedores, hoje, continuam bebendo antes da partida. Mas fazem isso do lado de fora dos estádios, deixando as áreas do entorno das arenas de Corinthians, Palmeiras e São Paulo ainda mais confusas do que se podia esperar. Ele usa a Copa do Mundo como exemplo, lembrando que o consumo foi liberado nos jogos e diz que voltará a haver liberação de bebida nas Olimpíadas. "Então libera de uma vez", exclama.

 

PUBLICIDADE

Torcedores nas imediações da Arena Allianz, na zona oeste

Paiva revela que a entrada do projeto na pauta da Câmara ocorreu após apelo de Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF). Bastos, Paiva, e outros parlamentares, como o presidente da Câmara, Antonio Donato (PT) trataram do tema durante um almoço ocorrido na sexta-feira do dia 14, na sede da FPF, na Barra Funda, zona oeste da capital. O projeto havia sido sido aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) em abri, mas ainda não estava na pauta de votações. A FPF enviou nota sobre o assunto: "A Federação Paulista de Futebol aguarda a decisão da Câmara Municipal sobre a liberação de bebidas alcoólicas nos estádios, algo que já acontece em competições internacionais, como na Copa do Mundo", sem dar mais detalhes.

Publicidade

Consenso.

Na Câmara Municipal de São Paulo, em geral, os textos só são são votados quando já há um acordo entre as lideranças. A regra é que um texto seja levado ao plenário apenas caso haja entendimento que será aprovado. A expectativa é que regra não se aplique a esse projeto. Ele faz parte de uma lista de "propostas polêmicas" que aMesa Diretora quer, neste segundo semestre, colocar para votação antes de que se costurem esses acordos, para aumentar a produtividade parlamentar. "Se aprovar, aprovou", diz um parlamentar defensor da idéia. A medida serviria também para gerar mais fatos de repercussão para o legislativo na véspera de ano eleitoral. A principal resistência ao texto vem de setores ligados à bancada evangélicos ou à chamada "bancada da bala". O vereador Eduardo Tuma (PSDB), por exemplo, afirma que não só tentará barrar a proposta como também irá apresentar um texto substitutivo em que reforça a proibição ao consumo de bebidas nos estádios. "É um estímulo ao consumo de uma droga lícita e legal. Aumentará não só a violência nos estádios como também em casa, após o torcedor chegar embriagado", argumenta o vereador. Tuma diz ainda que, com o combate à medida, pretende defender "aquele que é dependente do álcool e consegue evitar o contato com a bebida ao longo do dia, durante o trabalho, mas que ficará exposto ao ir ao estádio", diz. Além disso, ele afirma que há disposições estaduais e federais que já proíbem tal comércio. "Se aprovado, será uma medida ilegal", argumenta.

 

Concentração de torcedores em Itaquera, na zona leste

Violência.

A venda de cerveja nos estádios é uma imposição do Estatuto do Torcedor válida desde 2010. Foi uma saída defendida por policiais e membros do Ministério Público Estadual para frear a onda de brigas entre torcidas organizadas. O entendimento era que, sob efeito do álcool, os torcedores ficavam mais violentos. Um dos articuladores da medida, e ligado à área há 10 anos, o promotor de Justiça Paulo Castilho, entretanto, afirma que não há motivos para achar que as mudanças, se aprovadas na forma como estão, poderão fazer aumentar a violência nos estádios paulistanos. "Você tem um movimento de liberação da cervejas nos estádios que é mundial. Está acontecendo, neste momento, na Espanha. Tivemos um momento delicado até 2006 (com a violência entre torcedores). Naquele momento, (a proibição) era o que se podia fazer. Mas o que acontece é que bem ao lado do estádio, no lado de fora do muro, as pessoas consomem batidas, até bebidas mais fortes. Em Goiânia, onde há uma liminar que faz tempo já libera a venda de bebida, não há uma relação entre isso e o aumento da violência", afirma, afastando a polêmica do tema. Castilho vê vantagens com a liberação da cerveja. Diz que é possível supor que o torcedor entrará no estádio com mais antecedência. "Hoje, ficam bebendo na porta até a hora de o jogo começar e, depois, entram todos juntos, o que dificulta o trabalho da polícia", explica. O promotor afirma entender, também, que, da forma como está a proposta, a própria dinâmica das arenas evita o consumo exagerado da cerveja. "Se a pessoa vai consumir cerveja dentro do estádio, no intervalo, há controle. Primeiro porque, lá dentro, a cerveja é cara. Depois, tem fila. E mesmo se o sujeito exagerar, ele pode ser retirado do estádio se estiver incomodando os demais torcedores", adverte o promotor.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.