Antes mesmo de ser publicado, o edital da licitação que vai renovar todos os contratos de empresas de ônibus de São Paulo já é alvo de acusações de direcionamentos. Ex-perueiros, agora empresários das antigas cooperativas de lotações, não gostaram de saber que a Secretaria Municipal de Transportes marcou datas distintas para entrega das propostas para os diferentes lotes e tipos de serviço. A gestão Fernando Haddad (PT) dividiu a oferta de ônibus em três tipos: as linhas dentro dos bairros, tidas como menos rentáveis, as entre bairros diferentes e entre bairros e o centro -- o "filé" da história, com as linhas que operam nos corredores, e portanto têm menos custos, e mais passageiros pagantes.
Os ex-perueiros vinham planejando se associar para disputar algumas dessas linhas. A união se faz necessária porque, sozinhos, eles não têm capital mínimo exigido para entrar nesses lotes. Mas a decisão da Prefeitura de receber as propostas em datas diferentes trouxe receio ao grupo. O temor é que, se participarem desses lotes, sofrerão "retaliações" dos chamados "empresários tradicionais" -- as famílias que, há ao menos três décadas, controlam as linhas principais. A retaliação viria com a tentativa dessas famílias de disputar as linhas locais também. O entendimento foi que essa retaliação não seria possível se todas as propostas fossem apresentadas juntas, em um único dia, para os diferentes lotes e tipos de linhas. Os ex-perueiros se organizaram na madrugada de quarta para esta quinta-feira, 15, para ler os detalhes de todos os editais, que seriam publicados na íntegra na quinta. A Prefeitura vem afirmando que a licitação foi elaborada de forma a permitir o máximo de disputa entre os interessados. O vencedor de cada lote será aquele que pedir menor valor de contrapartida por passageiro transportado.