Pablo Pereira
15 de setembro de 2012 | 12h54
Desde os anos 40, pelo menos, que se fala que um dia o trânsito de São Paulo vai travar. Naqueles anos da explosão demográfica e intensa exploração imobiliária chegou-se a cunhar uma expressão para combate: São Paulo não pode parar! Parar, em São Paulo, significa, até hoje, perder. Perder dinheiro, oportunidades, negócios, fortuna.
Sem dúvida, mover-se é bom. Mas parar poderia também significar reflexão – movimentar os neurônios também pode ser bom. Refletir, por exemplo, por que não se vê ninguém muito preocupado com uma outra perda, a da qualidade de vida.
Deve ser porque os paulistanos acham que uma coisa pode ser compensada por outra. Afinal. correm a semana inteira e, na sexta-feira, descontam o estresse – nas estradas, indo para a praia, para a chácara, mesmo sabendo que a volta pode ser terrível!
A convivência na semana, à espera da fuga, no entanto, beira a insanidade. Basta tentar rodar por meia hora por aí para se notar que nos últimos meses o antigo temor já se transformou em realidade. Olhem para as pessoas dentro dos carros! Se não parou tudo, ainda, já são claros os sinais da fadiga na relação cidadão-deslocamento-cidade.
Na noite de quinta-feira, no curioso 7º Desafio Intermodal, uma corrida que teve largada às 18h, a terrível hora do pico, envolvendo 14 formas diferentes de deslocamento (carro, ônibus, trem, bicicleta e caminhada), mais uma vez mostrou isso. Com apoio da Rádio Estadão/ESPN, o evento comprovou que naquele momento um carro só ganhava de uma pessoa a pé.
A paradeira está em toda parte. Só que picada. Tem gente que se engarrafa ainda dentro do estacionamento. O futuro está aí, parado! Um empresário catalão que vive na cidade há pouco tempo não entende como o transporte coletivo é como é, ou seja, uma tortura, e o trânsito está assim. Por que não funciona?, perguntava ele nesta semana, durante uma entrevista, sem entender o motivo da inoperância de tão básica necessidade da população. É assim porque não se para para pensar.
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