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Histórias de São Paulo

O tempero do tempo

Por Pablo Pereira
Atualização:

"Nem eu, que conheço todo mundo lá, consigo explicar o que aconteceu. Nem eu!", tem dito Angelo Luisi, italiano de Potenza, palmeirense roxo,  incrédulo com o que aconteceu com o clube da Rua Turiassu nos últimos dias. Torcedor apaixonado há mais de meio século, Angelo é um exemplo de persistência na gastronomia de São Paulo. A cantina que dirige é uma rara boa mesa com mais de 100 anos.  "Depois de ficar 5 pontos na frente, perdemos tudo", diz ele, em seu português carregado de italianice, chocado com a derrocada do time no campeonato brasileiro de futebol.

 

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O jogo de bola é uma paixão de Angelo. "Nasci em 1920 na Itália e vim para o Brasil em 49", lembra ele à porta da Cantina Capuano, o mais antigo restaurante italiano em funcionamento ininterrupto na cidade. A Capuano foi fundada em 1907, segundo Angelo, que é dono do negócio há quase 50 anos.

Há registros de que a casa teria sido criada em data ainda anterior, 1903, como afirma o livro Guia de Documentos Históricos da cidade. Mas Angelo diz que não. "Comprei do velho Francisco Capuano em 1961, ficava na Major Diogo. Olhe aí a data", lembra ele, mostrando o ano estampado na parede.

 

Além do futebol, como mostram as fotos de Nilton Fukuda/AE, Angelo parece também adorar cozinha. A dele fica no coração do Bexiga, na Conselheiro Carrão, quase esquina com a Rua 13 de Maio, bem pertinho da famosa Igreja da Achiropita.

 

Angelo é prova de que o tempo é bom conselheiro e, acrescento eu, excelente para os temperos. Em fevereiro, completa 90 anos. Com esse alegre marqueteiro da mesa d' Itália, a lista daquelas máximas de cozinha "a pasta da nonna", "a pizza da mamma" ou até a brasilerinha "o bolinho da vovó", que nos trazem de longe sabores do paladar em formação, inesquecíveis, ganha mais uma: "o fusilli do Angelo".

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Capital gastronômica brasileira,  São Paulo pega mesmo pelo estômago. Novata no quesito pólis, a metrópole foi reconstruída sobre si mesma muitas vezes. E pouco conserva de suas origens.

 

Mas, como no tempero de Angelo, há, sim, esperança!

Pelo menos um outro restaurante já alcança a façanha de  servir, sem parar, por 100 anos na cidade. No Centro, segundo os registros do Guia (Editora Hucitec) prefaciado pela professora Maria Odila Leite da Silva Dias, da USP, e organizado pela pesquisadora Paula Porta, a Leiteria Pereira é ainda mais antiga do que a Capuano, de 1884.  Nasceu na Rua Boa Vista e mudou-se para a Rua São Bento.

 

Mas a Leiteria mudou não só de endereço. Trocou também de nome, passando a se chamar Bar Ao Guanabara, em 1910, ao ser vendida à família Martinez.

 

Beirando um século, Ao Guanabara já foi ponto de encontro de gente famosa, como mostra o site do bar. Mas, ao que parece, centenário redondo mesmo, só o da Capuano.

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Auguri!

Observação (do dia 25/11): obrigado aos amigos que pediram correção para o italiano nas palavras nonna, mamma e fusilli.

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