A imagem é dramática: a retirada pelos Bombeiros de Brumadinho, interior de Minas Gerais, do corpo de uma das vítimas do desastre que há um ano matou 270 pessoas, entre elas duas mães com seus bebês ainda em gestação. Uma dezena de pessoas até hoje não foi localizada. Fiz a foto na tarde de 26 de janeiro de 2019, um sábado, dia seguinte ao desabamento da barragem, quando acompanhava os resgates na zona rural da pequena cidade, de cerca de 40 mil habitantes. A todo momento os socorristas eram chamados para recolher os restos de atingidos pela tragédia.
Naquele cenário de devastação, os corpos era içados por helicópteros ou levados em caixas, como este, da foto. No chão, equipes vasculhavam o lamaçal e corriam quando ouviam relatos de gente que encontrava corpos. É uma mostra da dureza do trabalho diante daquela triste e terrível cena brasileira. Foram dias de sofrimento de milhares de pessoas, parentes, vizinhos e profissionais mobilizados para socorrer as vítimas naquele quadro desolador, como mostra a fotografia. Ninguém ficou imune àquilo. .
Parte do drama dos moradores de Brumadinho foi relatado na enorme cobertura jornalística que se seguiu por fevereiro e março, da qual fiz parte, uma das mais trabalhosas e impactantes da vida de muita gente, tenho certeza. Imagens que serão relembradas por anos e anos, como as que fiz das covas enfileiradas no cemitério à espera dos retirados da lama, que o Estado mostrou na capa quando ainda não se sabia o tamanho exato de mortes.
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Seis meses depois, o sofrimento das famílias se arrastava (veja o vídeo).
Agora, passado um ano, colegas repórteres que tiveram a oportunidade de voltar à região para relembrar a tragédia relatam histórias de ausências que jamais serão preenchidas na vida de centenas de famílias soterradas por aquela lama. A reportagem da Giovana Girardi e Tiago Queiroz, colegas que estiveram lá na semana passada, é um nobre relato jornalístico dos efeitos da tragédia.
O jornalismo é uma atividade profissional insubstituível, fundamental para a sociedade. Costumeiramente nos joga na cara mazelas quase insuportáveis. Há que, diariamente, passar o rodo, limpar a visão e respirar fundo para conviver com essas misérias. E prosseguir. Mas sem nunca deixar que esses fatos fiquem no esquecimento.
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