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Histórias de São Paulo

Livro relaciona ataque a Pearl Harbor com seringueiros brasileiros

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Por Pablo Pereira
Atualização:

O que teriam em comum o ataque do Japão a Pearl Harbor, em 7 de dezembro de 1941, episódio da Segunda Guerra Mundial, e o épico deslocamento naqueles anos dramáticos de cerca de 55  mil nordestinos para seringais no interior da Amazônia? A resposta - um espetacular esforço da Casa Branca de produção de látex para a indústria da guerra abastecer as tropas dos aliados - está no livro Soldados da Borracha, o Exército Esquecido Que Salvou a Segunda Guerra Mundial, dos pesquisadores norte-americanos Gary Neeleman e Rose Maurine Neeleman, lançado neste sábado, 12, na Feira do Livro de Porto Alegre.

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Editado pela PUC-RS, o livro mostra a busca do governo dos EUA pela borracha da selva brasileira e a ligação daquela monumental crise política internacional com o que viria a ser conhecido no Brasil como o abandono no mato de milhares de famílias nos seringais amazônicos após o fim do conflito e o início da decadência da borracha natural no mercado mundial. A obra dos Neeleman contém documentos, como correspondência diplomática e relatórios da administração americana, que comprovam o pagamento ao Brasil de US$ 40 milhões pela produção da borracha.

Capa de Soldados da Borracha (ediPUCRS)/ Foto: Pablo Pereira

"Em 28 de abril de 1948, houve um relatório final da Divisão de Desenvolvimento da Borracha do governo norte-americano", relatam os pesquisadores, citando documentos do Departamento de Estado dos EUA, guardados na Biblioteca do Congresso americano, em Washington. O relatório, assinado pelo funcionário americano A.J. Hildrather, aponta o tamanho da necessidade de borracha, que à época tinha produção dominada pelo japoneses - "97% da borracha natural do mundo estava nas mãos dos japoneses", diz o livro. "Os Estados Unidos já tinham adiantado US$ 100 milhões ao Brasil", lembra Gary Neeleman.

 A seiva branca da Hevea brasiliensis era produto tão importante para aquele momento que, segundo o documento, consumiu um investimento de US$ 1 bilhão, pago pelo governo dos EUA. Esse valor é a metade do custo total de pesquisa e produção de nada menos do que a mais letal e terrível arma já vista no mundo, a bomba nuclear. O Projeto Manhattan, que construiu as três famigeradas bombas - uma de teste, detonada em território americano, e as outras duas, jogadas sobre Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945 -, custou US$ 2 bilhões.

Paixão pelo Brasil - Os pesquisadores americanos não escondem a paixão que carregam pelo Brasil e a devoção que têm pela presença de compatriotas nesta parte do mundo. Casados, foram missionários mórmons enviados ao País nos anos 50. Viveram no Paraná, Rio e São Paulo, onde Gary foi correspondente da agência de notícias United Press International (UPI). Em 2015, a Câmara de Vereadores de São Paulo concedeu título de cidadão a Gary Neeleman.Hoje eles vivem em Salt Lake City, estado de Utah, mas não perdem a oportunidade de viajar pelo Brasil para "tomar cafezinho com pão de queijo", rever amigos e divulgar suas pesquisas.

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Com filhos que falam português - um deles é David Neeleman, dono da empresa de aviação Azul -, Gary Neeleman foi transformado, por influência do ex-embaixador em Washington Rubens Barbosa, em cônsul honorário do Brasil em Utah. Vinculado à representação do Itamaraty em Los Angeles, dedica-se à tarefa de acolher e auxiliar imigrantes em busca de sonhos na América. Sem esquecer o jeito brasileiro de ser, ele e a mulher, Rose, já publicaram, pela editora da Universidade São Marcos, em 2007, um livro sobre a gastronomia tropical. Em A taste of Brazil há 168 receitas que Rose Neeleman considera indispensáveis para um estrangeiro entender o paladar dos brasileiros.

O casal é autor ainda de Tracks in the Amazon (Trilhos na Selva, Editora Bei), que conta a história da ferrovia Madeira Mamoré, no Acre, e de Stars and Bars Beneath the Southern Cross - The Confederate Migration to Brazil (A migração confederada ao Brasil, estrelas e barras sob o Cruzeiro do Sul, EdiPuc), que conta o acordo entre os americanos e o Imperador Dom Pedro 2º para que confederados em êxodo após a Guerra Civil americana, Século 19, fossem acolhidos ao sul do Rio Grande - este livro será lançado em São Paulo, no Colégio Mackenzie, no dia 16, às 17h.

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