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Histórias de São Paulo

John Wayne voltou; na questão indígena, retrocedemos ao Século 19

Por Pablo Pereira
Atualização:

Nos anos 70, o historiador Dee Brown publicou um livro que mudou a visão norte-americana sobre o racismo contra os indígenas na América. A obra Enterrem meu coração na curva do rio (Bury My Heart at Wounded Knee, no título original) moveu consciências e despertou um sentimento de dívida da sociedade americana com uma parcela da população que foi massacrada, aniquilada, por colonizadores que chegaram às terras dos índios, no oeste do país, nos séculos 18 e 19, com revólveres e espingardas matando e se impondo à força, no tiro.

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No livro, Brown lembra, por exemplo,  das "hordas" de garimpeiros que desde 1850 se infiltravam em planícies de Nebraska e Kansas em busca de ouro em territórios nos quais viviam indígenas, como vemos ocorrer na Amazônia.

Depois de longos anos com a história sendo contada pelo olhar dos "vencedores" na literatura e no cinema, com John Wayne e seus xerifes (os mocinhos) contra os "selvagens", o livro de Dee Brown certamente ajudou os Estados Unidos na correção da história a partir de programas para permitir que sobreviventes daquelas crueldades pudessem ter condições de  existir como povos.

Atualmente, há pelos EUA parques nacionais protegidos em áreas de conservação, terras finalmente recuperadas por descendência indígena. É pouco, mas já é um começo na tentativa de reparação dos danos causados às comunidades de povos originários da América. A ação criminosa do preconceito, que é uma chaga nos EUA, acontece atualmente mais contra os negros, vítimas de discriminação e alvos de ataques do racismo armado, principalmente nos centros urbanos.

Pois, ontem, ao ler o Estadão de domingo, lembrei na hora do livro de Brown, que o prestigiado jornal The Washington Post já descreveu como "estarrecedor". A lembrança remeteu-me de imediato às matanças de indígenas brasileiros, que são parte do bioma amazônico, e também de seus defensores, como ocorreu em junho, nos assassinatos de Bruno Pereira e do jornalista e escritor britânico Dom Phillips, noticiados no Estadão.

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São fatos  que têm escancarado uma brutalidade que é coisa do Século 19 (massacre de Wounded  Knee, dezembro de 1890, nos EUA), assim como foi no atrasado Brasil dos tempos dos Bandeirantes, por exemplo, que assassinava botocudos - cujos registros podem ser encontrados retratados no acervo do Museu Paulista da USP.

Só que tem um porém: toda essa violência contra os descendentes dos nativos no Brasil está acontecendo agora, ano 2022!

E não apenas na fustigada Amazônia, onde quem manda é a barbárie com bandos armados, garimpeiros e devastadores na natureza sob o olhar das "autoridades", inclusive com o silêncio de forças que outrora foram parceiras do esforço de preservação. Na semana passada, novos casos de aniquilamento de indígenas foram denunciados em terras do Mato Grosso do Sul, segundo relatos do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). O retrocesso civilizatório é brutal.

ADENDO

Importante trabalho está sendo desenvolvido pela Unicamp, com pesquisador em campo, chamado Oeste sem Lei, mostrando a dureza da realidade  na Amazônia.

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