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Histórias de São Paulo

Falta administrador, mas ainda tem sabiá e maritaca

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Por Pablo Pereira
Atualização:

No cinema, quando quer informar ao espectador que o que ele está vendo se passa num ambiente de cidade grande, o diretor costuma usar o truque sonoro das sirenes de ambulância de fundo. E o sujeito logo entende que a coisa ali é barra pesada, que trata-se de um modo de vida urbano com toda a complicação que dessa realidade advém.

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São Paulo é assim. Complexa, gigante, com muitas sirenes e interesses de todos os tipos. Ricos, pobres, remediados, desamparados, todos convivendo num espaço que vem sendo adensado há 458 anos, completados nesta quarta-feira, sendo que seu crescimento vertiginoso - o que em parte explica muitas das atuais mazelas - ocorre a partir da década de 1940, quando a cidade tinha 1,3 milhão, e salta, em seis décadas, para 10,4 milhões (2000) e 11,2 milhões (2010), segundo os números do IBGE. É muita coisa.

Não é que o movimento criado por toda essa massa seja o culpado pelas dificuldades da vida na terceira maior aglomeração urbana do mundo (a cidade é polo atrativo e também influencia seus vizinhos, criando uma mancha que forma uma megalópole). Não. Essa montanha de gente, que é vítima cotidiana da violência, do trânsito, do abandono, das enchentes, fez riqueza e pagou seus impostos, encheu o caixa do poder público com seu suor. Produziu muito e em diversas áreas.

Tornou-se centro criador de um modo de vida de ponta no país. Atraiu imigrantes no passado como atrai investimentos no presente. A cidade tem um orçamento municipal de R$ 38,7 bilhões. Tem ciência top, gastronomia nota 10, arte fina, indústria avançada, emprego qualificado - e pelo menos três clubes de futebol com equipes de alto desempenho (São Paulo, Corinthians e Palmeiras). Ah, e tem a Lusa (de Antonio Manuel Leria, Flávio Gomes e Luiz Carlos Duarte)!

O que faltou foi produzir administrador público competente, honesto e com visão de estadista, gente com olho estratégico e sem a carga pessoal dos interesses de grupelhos ou partidos, à esquerda ou à direita.  Faltou foi gente de espinha ereta para administrar os conflitos, que se acumulam nesse mundão paulistano, pensando na cidade.

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Deslumbrados pela importância da caneta que têm às mãos, os gerentes de São Paulo sentam-se naquela cadeira muito famosa, no Vale do Anhangabaú, com os olhos no estrelato de uma outra cidade, Brasília, e não em Sapopemba, Cracolândia- ou nas águas do Ashton Kutcher.

Porém, mesmo com todas essas amarguras, o cachorrão vai adiante. E ainda oferece ambientes absolutamente bucólicos para se viver em diversos bairros. Dos elegantes e sofisticados aos mais simples e acolhedores. Há até locais nos quais se nota o barulho dos aviões, mas é raro o nervoso alerta das sirenes. E é possível, sim, curtir, não muito longe do Masp, a voz de sabiás e maritacas.

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