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Histórias de São Paulo

Vida na esquina

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Por Pablo Pereira
Atualização:

A migração para São Paulo é tema por demais estudado e está muito clara no panorama da cidade. Muitas histórias de sucesso e de fracasso estão pelas ruas. Caminhando perto do Centro, outro dia, encontrei uma delas morando numa esquina. Há 33 anos, Dilson Freire dos Santos, um paraense, chegou com um projeto: melhorar de vida.

 

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Dilson sonhava com o canto das oportunidades que atrai gentes de regiões distantes para São Paulo. É o mesmo canto que há um século faz a cidade acumular mais e mais migrantes, muitos deles prosperando, outros se desesperando. São Paulo saltou de 130 mil habitantes, na década de 1890, para os atuais quase 11 milhões de almas, uma vertiginosa explosão populacional.

Hoje com 58 anos, sentado na mureta da Avenida 23 de Maio, de onde vigia a sacola de roupas no outro lado da rua, Dilson lembra de sua história como pedreiro e pintor. Em São Paulo, viveu do seu trabalho, casou-se e teve filho. Mas perdeu tudo. Primeiro, perdeu tragicamente o filho. Abalado, consumido pela bebida, separou-se da mulher e perdeu a casa e os amigos. Há pelo menos oito anos mora na rua. Nos últimos três vive na mesma esquina, que divide com novos amigos, sob uma marquise.

 

  No último setembro, Dilson escapou de uma pneumonia. Numa madrugada, viu um companheiro, que ele conhecia como "Gordo", morrer ao seu lado, deitado em colchões velhos na calçada. "Ele pediu água, estava seco, estava morrendo", conta.  "Morreu quieto, sem fazer barulho."

 

Além de carregar o silêncio dos últimos momentos do vizinho, o morador da esquina da Avenida 23 de Maio com o Viaduto Pedroso sente um outro peso: já viu muita gente a caminho do fim.  "É muito crack. Tem muito crack na rua", diz. "Eu não gosto; gosto de pinga", prossegue. E confessa: "Já tentei parar. Mas o senhor sabe, né?" E sorri... Um sorriso de desamparo.

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 Foto: Estadão
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