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Histórias de São Paulo

A tosquice no caso das terras indígenas e o sumiço de Dom Phillips e Bruno Pereira

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Por Pablo Pereira
Atualização:

O Brasil é mesmo um país com gente tosca. Boa parte da sociedade e governantes tornou-se isso. Em vez de proteger terras indígenas e seus ocupantes, para que no futuro tenham oportunidade de viver com dignidade e se desenvolver como povos, permanece sentado sobre preconceitos e prefere até apoiar a violência contra quem quer mostrar a ignorância das ocupações madeireiras ilegais, da exploração desregrada do agro, atos que acabam criando espaços para ações de grupos de narcotraficantes e outras atividades ilícitas. Esse é um cenário que está por trás do caso Dom Phillips e Bruno Pereira, jornalista e indigenista, desaparecidos no Vale do Javari. Como esteve, também, presente no caso do ambientalista Chico Mendes, em Xapuri, no Acre, que lutava contra fazendeiros, assassinado às vésperas do Natal de 1988.

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Há casos, como o de Roraima, divisa com o Amazonas, com parque controlado pelos waimiri atroari, que, inclusive, fecham o acesso noturno à BR 174 como forma de proteção contra eventuais invasores. E do Xingu, mais famoso. Mas são reservas conquistadas a duras penas, depois de anos de batalha, tendo, em outras épocas, ajuda e proteção das Forças Armadas, Funai e Polícia Federal - hoje mais difícil -, além da contribuição de abnegados da causa, como os irmãos Villas Bôas e de um militar (!), o marechal Cândido Rondon (1865-1958), nascido no Mato Grosso, ele próprio um descendente dos bororo por parte de mãe.

Rondon dedicou a vida à proteção de diversas tribos, foi fundamental na criação do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), que deu origem à Funai. Reconhecido mundo afora, chegou a ser indicado ao Nobel da Paz, como ensina biografia publicada na FGV.

Hoje, esses territórios pelos quais lutou Rondon, vivem sob constante cobiça e ameaça. O ideal do militar indígena Rondon  - "Morrer se preciso for, matar, nunca" -, parece abandonado. E essa situação não ocorre somente nos fundões isolados no mato, não. Comunidades guarani, como a das pessoas da aldeia tekoá, bem ao lado da rica São Paulo, travam lutas diárias para sobreviver e obter acesso a condições dignas de vida.

Agora, vejam: no exterior, o caso dos hualapai, que faturam com o espetacular Parque Nacional do Grand Canyon, nos EUA. É local que turistas brasileiros adoram visitar e depois postar nas redes sociais como conquistas de suas viagens internacionais. São comunidades que invertem o que foi um período de segregação e isolamento, de décadas, e atualmente exploram negócios com hotéis e o acesso ao parque, no Arizona, que, inclusive, não fica muito distante, menos de 500 km, de Los Angeles, onde esteve o presidente da República, em encontro da Cúpula das Américas. Pois, é terra de índio, protegida. Foi com luta? Sim, muita luta. Mas, hoje, são assim. Há mais desses parques pelos EUA, revertendo aos poucos um passado colonial miserável.

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Ou, mais ao norte, no Canadá, onde há o bairro dos "First Nations" squamish, sob a vigília de seus totens coloridos de madeira. Esses indígenas canadenses vivem com padrão de consumo elevado, o que lhes proporciona meios de exploração de negócios, como a Universidade Capilano, além de ter propriedades, carros, restaurantes, investimentos imobiliários.

Imagens abaixo são de reserva do povo squamish na área urbana de  North Vancouver/Fotos Pablo Pereira 
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Há exemplos às carradas pelo Canadá de gente indígena em terras mais afastadas das cidades, que luta por conquistas adicionais como os direitos à proteção ambiental. Qual a diferença entre os dois modos de fazer as coisas? A tosquice brasileira.

 

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