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Histórias de São Paulo

A lúgubre retórica do senador Jobim

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Por Pablo Pereira
Atualização:

Há muitos anos que o modo de vida da garoa alcança outros ambientes brasileiros, influindo na economia, cultura, política. Centro de decisões relevantes, a cidade de São Paulo atrai "estrangeiros" e exporta modelos.

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 Concorde-se ou não com o que dela emerge, não se pode negar que esse conjunto de interesses forjados na cidade alcança outras áreas nacionais e altera rumos. Veja-se, por exemplo, a produção de bens, da ciência e dos arranjos políticos para o comando do país - para o bem e para o mal.

Isso tem tempo. Lá atrás, na História, nos anos 1860, quando ainda não era mais do que uma cidadela, a aura paulistana das mudanças já se prenunciava na criação de ambiente acadêmico, mais tarde ampliado com universidades de ponta.

Havia no Rio, sede da corte, célebres sessões do Senado que tratavam do clima de São Paulo. Documentos da época mostram que debates sobre os costumes de São Paulo extrapolavam o recinto parlamentar do Império e repercutiam na imprensa e na literatura. Cronistas da época, como Machado de Assis, que sobre os políticos mantinha ácida vigilância, descreveram muito bem esse ambiente.

Uma das vítimas preferidas das "maldades" da pena machadiana nos jornais era o senador gaúcho José Martins da Cruz Jobim, médico do Imperador, diretor da Faculdade de Medicina carioca, que dizia no Senado que não gostava do que via em São Paulo. Brito Broca, em livro sobre Machado, lembra a perseguição ao ambiente paulistano pelo senador, que se referia às festas e pilhérias de alunos da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. "Que educação recebem esses mil brasileiros que vão estudar em São Paulo?", atacava o senador. "Que educação recebem (...)? Uma vida ignóbil, uma vida de lástimas, (...) entregues ao jogo, à crápula, à comezaina, à casa de alcoice." Noves fora a rabugice do senador, essa retórica já antecipava tempos de construção de novo modo de vida em São Paulo.

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Correção: a última edição da coluna (2/05) informa data de morte de Castro Alves (1847-1971). Correto é 1871.

 

(texto publicado em O Estado de S.Paulo)

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