Virada Cultural foi criminalizada, diz criador do evento
'A cidade é violenta, um ou outro crime durante a Virada talvez acontecesse no centro no sábado à noite da mesma maneira', afirmou José Mauro Gnaspini
Por Daniel Weterman
Atualização:
SÃO PAULO - O criador e ex-diretor da Virada Cultural de São Paulo, José Mauro Gnaspini, disse que o evento foi criminalizado e recebeu uma culpa equivocada por transtornos e crimes ocorridos na cidade. A alteração no formato da programação foi uma das mudanças anunciadas pelo prefeito João Doria (PSDB) ao ser eleito no ano passado. O tucano disse que os grandes shows serão retirados das ruas para dar lugar a uma programação distribuída em equipamentos públicos, como teatros, bibliotecas e o Autódromo de Interlagos. O evento foi criado em 2005, na gestão de José Serra (PSDB).
Virada Cultural em 11 anos: acertos e erros de cada edição
1 / 25Virada Cultural em 11 anos: acertos e erros de cada edição
Virada Cultural
Iniciada em 2005, a Virada Cultural passará por uma grande mudança em 2017. O prefeito eleito João Doria (PSDB) anunciou que o evento será realizado n... Foto: ALEX SILVA/ESTADÃOMais
2005 - Acertos
Inspirada na Nuit Blanche, ou “noite branca”, em tradução livre do francês, a Virada Cultural nasceu em São Paulo com eventos espalhados pela cidade a... Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAOMais
2005 - Erros
A Virada ainda engatinhava conceitualmente. O centro da cidade, grande protagonista de edições futuras, ainda não tinha a importância que merecia. Ins... Foto: ALEX SILVA/EstadãoMais
2006 - Acertos
O público não deixou de prestigiar a Virada Cultural daquele ano mesmo após uma semana tumultuada pelos ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC). ... Foto: MARCIO FERNANDES/EstadãoMais
2006 - Erros
Enquanto algumas parte do público reclamavam da falta de policiamento, principalmente nas apresentações noturnas na região da Praça da Sé, a organizaç... Foto: ERNESTO RODRIGUES/EstadãoMais
2007 - Acertos
O dobro de público. De 1,5 milhão para 3 milhões. O paulistano, no terceiro ano de Virada Cultural, passa a abraçar o evento cujo show de abertura foi... Foto: EPITACIO PESSOA/EstadãoMais
2007 - Erros
Quebra-quebra na madrugada. Uma confusão entre um grupo e a polícia, durante o show do Racionais Mc's, marcou aquele ano e gerou depredação por outras... Foto: SERGIO CASTRO/EstadãoMais
2008 - Acertos
A Virada, em crescimento constante, se tornou um dos eventos mais lucrativos do município. De acordo com a SPTuris divulgou na época, a estimativa é q... Foto: EDUARDO ANIZELLI/EstadãoMais
2008 - Erros
O hip-hop foi colocado para escanteio no ano seguinte ao show do Racionais Mc's e a confusão entre parte do público e a polícia, na Praça da Sé. Nesta... Foto: EDUARDO ANIZELLI/EstadãoMais
2009 - Acertos
A temática dos palcos foi, aos poucos, ficando mais clara. No espaço montado no Largo do Arouche, por exemplo, o brega ditava as regras. Na República,... Foto: PAULO PINTO/EstadãoMais
2009 - Erros
Panela de pressão. A Virada foi, aos poucos, se concentrando na região central da cidade. O resultado foi um público estimado de 4 milhões de pessoas ... Foto: PAULO PINTO/EstadãoMais
2010 - Acertos
Circulação. A Virada Cultural melhora e piora com a experimentação. Cada ano mais focada em realizar seus eventos no centro, a organização decidiu amp... Foto: FOTO SERGIO CASTRO/EstadãoMais
2010 - Erros
A Virada computou a primeira morte. O jovem Alexandre Alves Santos, de 17 anos, se envolveu em uma briga e teve o tórax perfurado por uma faca na Aven... Foto: LEONARDO SOARES/EstadãoMais
2011 - Acertos
Diante das reclamações dos anos anteriores com o excesso de sujeira e venda de vinho químico para menores, a Virada teve um aumento de lixeiras espalh... Foto: LEONARDO SOARES/EstadãoMais
2011 - Erros
A violência ainda era uma preocupação. Nesta edição, uma pessoa caiu do Viaduto Santa Ifigênia, às 3h de domingo. Outra foi ferida a faca em uma briga... Foto: ERNESTO RODRIGUES/EstadãoMais
2012 - Acertos
Gilberto Gil foi a escolha mais do que acertada para encerrar a Virada daquele ano. E, quem melhor que ele para representar um evento tão eclético? Gi... Foto: DANIEL TEIXEIRA/EstadãoMais
2012 - Erros
A confusão da galinhada do chef Alex Atala. Foi o ano em que a Virada contou com chefs se reunindo no Minhocão para apresentar seus pratos a preços ma... Foto: ERNESTO RODRIGUES/AEstadãoMais
2013 - Acertos
A Virada Cultural começou bem naquele ano. Daniela Mercury, acompanhada pelo Zumbro Trio, pediu por igualdade de direitos para homossexuais e a cassaç... Foto: EPITACIO PESSOA/ESTADÃOMais
2013 - Erros
Em contrapartida, foi também a Virada Cultural mais violenta. Duas pessoas morreram, cinco foram baleadas e outras duas esfaqueadas. Isso sem contar n... Foto: EPITACIO PESSOA/ESTADÃOMais
2014 - Acertos
Um ano depois da Virada Cultural mais violenta, a edição seguinte teve um número recorde de presos pela Polícia Militar. Foram 56 detidos em flagrante... Foto: Carlos Severo/MILENAR IMAGEMMais
2014 - Erros
A chuva estragou o fim da festa da Virada neste ano. Martha Reeves, que encerraria a programação no palco Julio Prestes, o principal do evento. O equi... Foto: THIAGO CARVALHO/DivulgaçãoMais
2015 - Acertos
Caetano Veloso fechou a Virada respondendo, enfim, aos pedidos para que não fizesse com Gil o show marcado para julho daquele ano, em Tel-Aviv, Israel... Foto: DARIO OLIVEIRA/DivulgaçãoMais
2015 - Erros
Esvaziamento. Dois anos depois da mais violenta das Viradas, o evento no centro de São Paulo foi esvaziado. A prefeitura, nesta edição, preferiu não d... Foto: SERGIO CASTRO/ESTADÃOMais
2016 - Acertos
O “happy hour” realizado na sexta-feira, antes da Virada, atraiu público ao centro. Outra característica dessa edição foi que a política esteve em pau... Foto: SERGIO CASTRO/ESTADÃOMais
2016 - Erros
O principal palco da Virada, o Julio Prestes, teve a sua programação interrompida e não contou com shows durante as 24 horas. Locais como Rua 25 de Ma... Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃOMais
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"A Virada é grande e de certa maneira, incontrolável. Nunca tem uma segurança total de que não vai acontecer nada. O que houve de negativo foi uma certa criminalização do evento imputando a ele todo e qualquer efeito de coisa negativa que ocorria naquela noite", disse Gnaspini em entrevista à Rádio Estadão. "A cidade é violenta, um ou outro crime durante a Virada talvez acontecesse no centro no sábado à noite da mesma maneira (se não houvesse o evento)."
Para Gnaspini, a Virada tem a característica de ser anárquica ao ocupar os espaços públicos. "Muito difícil você fazer a festa e querer que a cidade deixe de acontecer do jeito que a cidade é."
Grafites. Gnaspini, que também coordenou projetos de grafites na Avenida 23 de Maio, onde diversas paredes foram pintadas por tinta cinza por determinação do prefeito, defendeu uma política permanente para a arte urbana de São Paulo.
"É natural que o poder público queira organizar a cidade, limpar a cidade, a questão é que precisa fazer isso observando quais são as dinâmicas envolvidas, se aproximar dos agentes e tentar organizar, respeitando a dinâmica do que é a própria rua", afirmou.
Ele sugeriu que o governo crie um fórum permanente de discussão com grafiteiros nas prefeituras regionais para entender a arte e trabalhar o assunto de forma positiva.