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Vilas europeias ganham clones pelo mundo

Em países como a China, copiar cidades inteiras - também dos Estados Unidos - virou moda; até lago dos Alpes austríacos já foi recriado na Ásia

Por Rodrigo Burgarelli
Atualização:

Quem quer visitar uma típica vila austríaca, com arquitetura medieval bem preservada e na beira de um lago alpino, não precisa ir exatamente à Áustria. Pode também viajar para Guangdong, província no sul da China a 6,4 mil quilômetros da Europa. Um vilarejo da Toscana, daqueles que se vê em cartões postais? É só ir a Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Mansões californianas de Beverly Hills? Procure no Cairo, Egito.O aumento da renda nos países emergentes ocorrido na última década está estimulando um mercado meio kitsch voltado às classes mais altas desses locais: a cópia de cidades e estilos arquitetônicos de outros países, principalmente europeus e americanos. Criticada por boa parte dos arquitetos e urbanistas mais influentes, a transposição - algumas vezes até de cidades inteiras - agrada bastante aos consumidores, que financiam projetos bilionários para terem sua própria réplica de uma casa do primeiro mundo.O exemplo mais recente de cidade clonada ocorreu com o pequeno vilarejo de Hallstatt, um dos pontos turísticos mais famosos da Áustria, declarado patrimônio mundial pela Unesco. Uma firma chinesa investiu US$ 940 milhões (R$ 1,9 bilhão) para recriar, rua por rua, casa por casa, essa pequena vila centenária de menos de mil habitantes. Até o lago natural dos Alpes austríacos foi recriado, mas agora nas bordas de uma cadeia montanhosa no sul da China. Finalizada há poucas semanas, a Hallstatt chinesa estimulou sentimentos contraditórios nos moradores da cidade original. No ano passado, um dos projetistas chineses foi detido na Áustria por levantar suspeitas após perambular pelo vilarejo fotografando cada residência. Mas a resistência do prefeito e dos moradores do local mudou depois no salto no turismo de chineses interessados em conhecer a Hallstatt original. Segundo a agência de notícias Reuters, o número saltou de apenas 50 em 2005 para alguns milhares neste ano. A cidade foi inaugurada no fim de junho, exatamente um ano após o início das obras.Clone. Essa não foi a primeira vila clonada da China - e certamente não será a última. O crescimento econômico de cerca de 10% ao ano que já dura algumas décadas, aliado a um intenso processo de êxodo rural e inchaço das cidades, incentiva a criação de condomínios como o Orange County - são 143 casas imitando um subúrbio californiano a apenas 45 minutos do centro de Pequim.Outro fenômeno recente é o crescimento dos chamados "condomínios internacionais". Nas Filipinas, um condomínio com mais de 3 mil casas e lotes em pleno Sudeste Asiático é dividido em seções, cada uma representando a arquitetura de um país. Exemplos: Villas (Espanha), Chateaux (França) e Tokyo Mansions (Japão). O "International City", em Dubai, já tem mais de 60 mil moradores e funciona de maneira similar.Para o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) Lúcio Gomes Machado, a criação de réplicas empobrece a arquitetura atual. "Cópia leve é algo que sempre houve, como os Campos Elísios, em São Paulo, que queria copiar a Paris do século 19, ou mesmo Campos do Jordão. Mas esse pastiche moderno e brega supera os limites anteriores. É um fenômeno interessantíssimo e vale estudo aprofundado."CÓPIAS ABANDONADASEm Xangai, na China, uma cidade foi planejada em 2001 com nove centros, cada um com estilo arquitetônico de um país diferente. A única habitada é Thames Town, cópia de cidade inglesa.

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