Vereador mapeia reduto eleitoral com verba pública

Câmara de SP destinou R$ 132 mil dos recursos de 19 gabinetes para pagar empresa de informática, que só recebeu menos dinheiro do que os Correios

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Por , Diego Zanchetta e Rodrigo Burgarelli
Atualização:

Parte da verba indenizatória da Câmara de São Paulo tem sido empregada em um sofisticado mapeamento dos redutos eleitorais de vereadores. O serviço, tido como ferramenta "revolucionária", é feito pela Workline System Consultores. Na edição de ontem, o "Estado" mostrou quanto e como os parlamentares aplicam a verba suplementar de R$ 14.800 mensais a que cada um tem direito para custear os seus gabinetes. Desde abril do ano passado, quando o detalhamento dos gastos dos gabinetes ficou disponível para consulta na internet, a empresa de informática recebeu R$ 132,1 mil de 19 dos 55 vereadores - maior repasse para uma prestadora de serviços privada, atrás apenas dos Correios (R$ 1,57 milhão no mesmo período). As duas ferramentas mais procuradas pelos clientes da Workline são o "Gabinete online" - espécie de cadastro digital, no qual são inseridos os dados das pessoas que procuram o gabinete e as demandas - e os chamados "Mapas do trabalho" - georreferenciamento que indica onde vivem os eleitores, projetos em andamento, casos resolvidos e problemas do bairro.Como os vereadores não podem comprar o software do gabinete online sem licitação - a Lei 8.666/97 proíbe contratações acima de R$ 8 mil -, a Workline resolveu "alugar" o programa. O custo mensal do serviço é de R$ 450, mas frequentemente os reembolsos pagos superam o valor, chegando a R$ 6 mil. "Às vezes o custo aumenta porque os vereadores pedem o mapeamento de seus eleitores nas zonas eleitorais", afirma um dos sócios da Workline, Wagner Sorban.O site faz propaganda sobre a eficiência dos programas e serviços disponibilizados aos políticos. "Só no ano de 2008 a Workline foi responsável por mais de 41 campanhas vencedoras!", proclama o link "Nossas Ferramentas".Vanguarda. "O trabalho é sensacional. Eles (Workline) cruzam os CEPs dos meus eleitores com o mapa da cidade. Dessa forma, quando eu preciso fazer uma ação, não preciso percorrer um bairro inteiro, mas só algumas ruas", atesta o vereador José Américo, líder do PT e campeão de gastos com a Workline - os repasses do petista para a empresa somaram R$ 21 mil entre abril do ano passado e fevereiro.Relator da lei que restituiu a verba indenizatória no Legislativo em agosto de 2007, Américo diz fazer um controle rígido de suas prestações de contas. "Tenho duas secretárias que só cuidam das contratações. E mesmo com as prestadoras de serviços eu faço um contrato formal e checo a idoneidade. É da responsabilidade individual de cada parlamentar o uso da verba de custeio", argumenta o petista, que defende os reembolsos.Para lembrarNa edição de ontem, o Estado mostrou que em alguns casos a verba de gabinete tem sido usada para pagar empresas que só existem no papel. Os pagamentos têm de ser comprovados por nota fiscal. Mas a lei não estabelece critérios claros de contratação e a fiscalização é ineficiente.As informações podem ser encontradas na seção "Prestação de Contas" do site da Câmara Municipal: www.camara.sp.gov.br. No mesmo site, há e-mails e telefones dos vereadores, no link: www.camara.sp.gov.br/vereadores.asp.

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