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Usuários aprovam a primeira noite de ônibus de madrugada

Frota de 151 itinerários entrou em operação; repórter acompanhou as rotas mais usadas pelos ‘baladeiros’

Por Rafael Italiani
Atualização:

SÃO PAULO -  “Pode entrar, mas vem aqui me ensinar o caminho.” Foi desta forma que o motorista de ônibus Clodoaldo José da Silva, de 40 anos, abordou o Estado dentro de uma das linhas da madrugada da Prefeitura. A frota de 151 itinerários entrou em operação na noite deste sábado, 28. O motorista teve a ajuda tanto da reportagem quanto dos primeiros passageiros da linha Terminal Parque Dom Pedro/Terminal Pinheiros, que passa pela Rua Augusta e atende uma das principais reivindicações dos usuários de ônibus que querem aproveitar a balada: não ter que “dormir”na rua para esperar os ônibus começarem a rodar às 4h. A partir de agora, a cidade conta diariamente com linhas da 0h às 4h, com intervalos de 15 e 30 minutos. Apesar do problema pontual no ônibus dirigido por Silva, o público aprovou o serviço e foi surpreendido pela pontualidade das linhas. “Eu acho ótimo. Ninguém merece ter que ficar na rua até de manhã esperando ônibus e Metrô. Se a balada estiver ruim, posso sair e ir direto para a minha casa”, afirmou a estudante Tamires Ruiz, de 19 anos. Ela e a professora Viviane Santana, de 28 anos, saíram da Penha, na zona leste, na noite de sexta-feira, 27, chegaram ao Terminal Parque Dom Pedro e seguiram para a Rua Augusta.

No mesmo ônibus, a cantora de rap Isabela Almeida, de 23 anos, agradecia ao motorista e a cobradora pelo serviço. Ela estava voltando de uma gravação em Osasco. Se não fosse a linha noturna, ela teria que esperar o dia amanhecer. “Eu vou muito para os extremos da cidade para cantar. O problema sempre é voltar para casa. Geralmente eu tenho que passar a madrugada na rua esperando a normalização do transporte”, explicou Isabela, que mora da Praça Roosevelt, na região central.

O Secretario Municipal de Transportes, Evaldo Gonçalo, acompanha o iní­cio da operação da Noturno, serviço de rede de onibus por operação controlada na madrugada de São Paulo, no Terminal Parque Dom Pedro acompanhado de sua filha, Sabrina, de quatro anos. Foto: Eliaria Andrade/Estadão

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Já a assistente administrativa Thaís Barbosa, de 21 anos, disse que já teve de voltar à pé da balada até a sua residência, no Ipiranga. “Quando eu for sair, não preciso mais depender do Metrô para chegar na balada. Posso sair mais tarde de casa, de ônibus, e voltar a hora que eu quiser.”

Na Vila Madalena, na zona oeste, o garçom Eduardo Rodrigues, de 30 anos, conseguiu pegar um ônibus com destino ao Sacomã, sem ter de esperar mais de uma hora pelas poucas linhas que ainda circulam durante a madrugada. “Eu moro na região da Avenida Paulista, que é relativamente perto. Teve dias em que eu demorei três horas para chegar em casa. Nós, que trabalhamos na noite, já desejávamos isso há muito tempo”, contou.

O bairro de bares e restaurantes também foi o destino do artista plástico Leonardo Vilela, de 27 anos. Morador da Freguesia do Ó, na zona norte, ele costumava sair antes das 23h de casa com destino à Vila Madalena. Para chegar até a região, Vilela pagava R$ 60 de táxi até a Avenida Paulista e de lá pegava o Metrô. “Sempre achei um absurdo não ter ônibus durante a madrugada. Essa história de que São Paulo funciona 24 horas até então era um mito.”

Na mesma noite, os estudantes Felipe Doles, de 21 anos, e Marcello Costa, de 20 anos, pegaram duas linhas da madrugada. Uma para sair da Rua Augusta e chegar no Terminal Pinheiros e outra para ir até o Terminal Santo Amaro, na zona sul.

Ele costumava pegar um táxi até a estação Butantã, da Linha 4-Amarela, esperava a estação abrir para poder embarcar, pegar um trem e chegar até sua casa. “Ficou bem melhor. Posso voltar para casa a hora que quiser e não fico refém do Metrô e da CPTM.”

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Os passageiros ouvidos estão dentro do perfil esperado pela Prefeitura. “Principalmente pessoas que procuram atividades de lazer e trabalhadores. Temos um público de trabalhadores muito grande que sai de madrugada e precisa ficar esperando uma hora para pegar o coletivo. Ele às vezes pegava o ônibus e, quando chegava em um extremo da cidade, não tinha o transporte local. Agora ele vai ter o conforto e a confiança de fazer isso”, explicou o secretário adjunto de Transportes, José Evaldo Gonçalo. Ele acredita que o público da noite paulista irá usar menos os táxis e os carros de passeio.

Segundo a diretora de planejamento da São Paulo Transporte (SPTrans), Ana Odila de Paiva Souza, a expectativa da Prefeitura é que 20 mil pessoas utilizem diariamente o transporte da madrugada. O número, segundo ela, pode aumentar. De acordo com a SPTrans, um programa piloto realizado em 12 linhas que já existiam e passaram e ter uma frequência maior entre a meia-noite e às 4h, tiveram aumento de 43%.

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