Uma bike é roubada em SP a cada meia hora

Na capital, casos se concentram em bairros centrais; medo faz ciclista mudar rotina

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Por Juliana Diógenes
Atualização:

SÃO PAULO - A cada meia hora, um boletim de ocorrência é registrado por furto ou roubo de bicicleta no Estado de São Paulo. Dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP) mostram que entre janeiro e setembro de 2016 foram levadas, em média, 46 bikes por dia. Nos nove meses, foram 12.710 ocorrências, ante 11.954 do mesmo período do ano anterior – um aumento de 6,3%.

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Pela primeira vez, o Estado fez um levantamento para mapear os crimes relativos ao modal. Só na capital – primeiro lugar no ranking das cidades –, houve 1.351 furtos e roubos de bicicletas entre janeiro e setembro. A maioria dos casos se concentra nas áreas central e oeste. Mas o total ainda pode ser maior, pela subnotificação. 

A designer gráfica Maria Julia Brito, de 26 anos, por exemplo, foi roubada no Minhocão e não registrou boletim de ocorrência. Eram 22 horas de domingo e a via estava fechada para carros, quando a jovem e um amigo sentaram no Elevado, perto da Estação de Metrô Marechal Deodoro. As bicicletas dos dois ficaram encostadas na mureta.

A designer gráfica Maria Julia foi roubada em um domingo no Minhocão e acabou desistindo de registrar o crime Foto: Alex Silva/Estadão

Um grupo de pessoas caminhava na direção da dupla. Segundo ela, uma criança pegou a bicicleta do amigo dela e levou embora. O jovem correu e conseguiu reaver a bike de volta. Nesse meio tempo, os outros do grupo a abordaram e, com uma garrafa de cerveja na mão, pegaram a bicicleta dela. “Nos dias seguintes, alguns colegas ciclistas viram uns meninos rodando com a minha bicicleta, que era bem chamativa: roxa com aro azul”, conta. 

Maria até tentou fazer boletim de ocorrência eletronicamente, mas diz que não conseguiu. Foi a uma delegacia no dia seguinte e relata ter sido informada que era para voltar em horário comercial. Acabou desistindo: “Não conseguiria recuperar a bicicleta. Pensei: ‘nem vale a pena fazer boletim’.” Ela usava a bike para trabalhar e passear. Desde o roubo, não comprou uma bike nova e parou de usar por um tempo. “Não tenho mais vontade de sair para pedalar à noite, que é horário em que tenho disponibilidade”,diz.

O vereador Police Neto (PSD), que no fim de novembro teve a terceira bicicleta furtada em quatro anos, dá a dica: não demore mais do que 20 dias para voltar a andar de bike, nem que seja emprestada. “Continuar pedalando para não perder o entusiasmo”, afirma.  Police Neto teve bikes furtadas no Largo São Bento em 2012, na Avenida Paulista em 2014 e na Praça da Sé. Ele defende a criação de um cadastro municipal de bicicletas roubadas – que depois pode ser ampliado para o País – nos moldes de um site feito por ciclistas, em 2001.

“Precisamos de um sistema eletrônico com todas as informações possíveis da bicicleta. Esse cadastro poderia contribuir com a inteligência policial para desbaratar quadrilhas.” 

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Resgate. Tal como Maria Julia e Police Neto, a universitária Giuliana Pompeu, de 22 anos, também teve a bicicleta roubada no centro. Ela, que é cicloativista, foi abordada por dois meninos que andavam em uma mesma bike. “Só percebi que era um assalto quando fui empurrada. Eles pegaram a minha bicicleta e saíram, cada qual em uma. Fiquei bem nervosa”, diz.

A jovem registrou boletim de ocorrência, mas também foi um pouco além: imprimiu a foto da bike, mostrou a todos os policiais que rondam a região e deixou o contato com os PMs. 

“Um dia, uma dupla de policiais a quem tinha mostrado a imagem da minha bike, que é chamativa, reconheceu a bicicleta com dois meninos e entrou em contato. Era a minha”, conta. Agora, Giuliana mudou a rotina: não anda mais depois das 23 horas e não deixa a bike estacionada na rua. 

Um dos modos de rastrear a bicicleta é pelo número do chassi, que desde setembro ganhou um campo nos boletins de ocorrência e passa a ser informado no momento do registro. 

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A SSP criou um grupo de trabalho para discutir o roubo de bikes, que reúne representantes da pasta, das polícias e outros cicloativistas, entre eles Daniel Guth, da Ciclocidade. “Nunca tínhamos conseguido diálogo com o gabinete da secretaria. Com as informações que estão sendo levantadas pela pasta, podemos traçar planos de ação.” 

A secretaria também criou, nos BOs, campos para preenchimento para detalhar as características da bike e ajudar a polícia a identificar o proprietário da bike quando ela for recuperada. De janeiro a outubro, foram recuperadas cerca de 500 bicicletas apenas na região central e no bairro de Pinheiros. O registro pode ser feito tanto nas delegacias quanto pela internet.