
Bruno Paes Manso e Rodrigo Brancatelli, O Estado de S.Paulo
31 Outubro 2010 | 00h00
Mais de um século depois, a data vem sendo reivindicada por movimentos sociais para ser oficializada como o dia da favela. Cinco cidades já aderiram - entre elas, Rio (a primeira), Salvador, Fortaleza e Sergipe. Em outras três, tramita projeto de lei para criar a data. Na quinta-feira, o evento será celebrado informalmente nos 26 Estados brasileiros e Distrito Federal, com mostras de filmes de diretores que moram em favelas, shows e saraus.
"Não queremos mais um feriado e também não queremos comemorar. Lutamos para tornar essa data um momento para reflexão", afirma Celso Athayde, um dos fundadores da Central Única das Favelas (Cufa), que encabeça a cruzada. "Favela e favelado são estigmas há mais de um século. Precisamos encontrar alternativas para transformar esse estigma em carisma."
Na véspera do feriado, Athayde vai se encontrar em São Paulo com o prefeito Gilberto Kassab (DEM) para discutir o tema. Assim como fez no Rio, ele pretende conseguir na capital paulista mais de 1 milhão de assinaturas em defesa da efeméride.
110 anos. Desde o surgimento dos primeiros barracos no Rio, a relação do brasileiro com as favelas foi controversa e mal resolvida. Tratadas nas primeiras décadas do século passado como patologia social a ser sanada com base nas políticas de remoção, já foram berço dos movimentos sociais nos anos 1960 e 1970 e ganharam a pecha de reduto de bandidos e traficantes nos anos 1980 e 1990.
Os estudos e debates sobre o tema aumentaram nos anos 1970 e ajudaram pesquisadores e autoridades a chegar a alguns consensos. É o caso das políticas de reurbanização. Abandonou-se de vez a crença na eficiência das remoções dispendiosas, que segregavam, destruíam vizinhanças ao mandar moradores para bairros distantes.
"Dificultava a vida dos que eram expulsos e custava caro aos governos, que precisavam criar nova infraestrutura. Apesar do consenso, a remoção ainda hoje é defendida disfarçadamente com argumentos ambientalistas", afirma o arquiteto e urbanista Kazuo Nakano, do Instituto Pólis.
O debate passa atualmente por um novo estágio. "O movimento está se rearticulando para discutir sua identidade, o que passa pela luta por vagas na universidade e reconstituição da sua história", diz o antropólogo Marcos Alvito, organizador do livro Um Século de Favela.
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