Tour evoca passado sombrio de São Paulo

Roteiro turístico assombrado percorre 6 pontos da capital paulista relembrando história local

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Por Juliana Diógenes
Atualização:

SÃO PAULO - Episódios importantes da história de São Paulo podem passar despercebidos nos trajetos cotidianos dos moradores da capital. Mas um roteiro turístico propõe contar detalhes do passado da cidade usando um tempero especial: a temática da assombração. 

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O Tour Assombra São Paulo, realizado pelo menos uma vez por mês, percorre por quase oito horas locais da capital que foram, e ainda são, palco de algum caso sombrio. O Estado acompanhou neste domingo, 30, um passeio que percorreu seis pontos da cidade. 

Às 9h30, o primeiro susto. Os integrantes do grupo foram recepcionados no Largo do Arouche, na região central, por um homem fantasiado de Zé do Caixão e uma mulher vestida, ao mesmo tempo, de Drácula, diabo e esqueleto. Casados, os organizadores são o contador Rene Marques de Oliveira, de 43 anos, e a guia de turismo Angela Arena, 49, responsáveis pelo tour. “Todo mundo fala que, vestidos assim, de longe nos reconhecem e sabem de onde sai o passeio”, diz Rene. 

Ao entrar no micro-ônibus, os participantes embarcam ainda mais na brincadeira. Uma faca de plástico ensanguentada decora o corrimão e, em um quadro pendurado logo na entrada, há a pintura de uma mulher morta segurando uma cruz. Nas cortinas, fantasminhas de pano povoam a cabeça do grupo e, como trilha sonora, músicas de filmes clássicos de terror. 

O analista Márcio Galluzzi, de 54 anos, saiu de Santo André neste domingo acompanhado da mulher e da sogra para fazer o seu primeiro tour temático de assombração. “Achei ótimo que já fomos recepcionados por eles dois fantasiados. E a decoração do ônibus nos faz entrar no clima”, diz Galluzzi. 

Ele, que já fez roteiros temáticos em cemitérios da capital e é fã dos suspenses do diretor de cinema Alfred Hitchcock, acredita que “esse lado sombrio, de medo e terror de São Paulo é pouco conhecido das pessoas”.

Ao entrar no micro-ônibus, os participantes embarcam ainda mais na brincadeira Foto: Gabriela Biló/Estadão

O roteiro

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A primeira parada é a Casa da Yayá. No casarão da Rua Major Diogo, na Bela Vista, zona central da cidade, hoje funciona o Centro de Preservação Cultural da Universidade de São Paulo. Mas antes de chegar, os 26 participantes do tour foram apresentados à biografia da antiga moradora do local. Sebastiana de Melo Freire, a Yayá, foi uma senhora da alta sociedade que, por sofrer com transtornos mentais, ficou presa ali durante mais de 40 anos.

Para a advogada e professora Stela Velter, de 38 anos, a história de Yayá foi uma das mais impressionantes do percurso. “O tratamento dado aos doentes mentais era muito contundente, sério e violento. Era mesmo como uma história de terror”, afirma. 

Quando alguém passa de carro ou ônibus perto da Câmara dos Vereadores, na região central, pode ser que não saiba que 13 vítimas do incêndio histórico no Edifício Joelma, outro ponto do passeio, morreram carbonizadas no elevador e nunca foram identificadas. O grupo visitou ainda o Mausoléu do Obelisco, na zona sul, que abriga os restos mortais dos combatentes da Revolução Constitucionalista de 1932.

Antes da parada para o almoço, Liberdade. Uma capelinha no bairro, mais precisamente no Beco dos Aflitos, também é parte do passeio. Isso porque, quem caminha perto da feirinha da Liberdade, aos domingos, talvez sequer imagine que, sob a calçada, já estiveram alguns restos mortais de escravos e moradores de rua, além de condenados à morte por forca no século XIX. 

No período da tarde, finalizam o passeio o Castelinho da Rua Apa, que foi palco de um crime familiar que abalou a cidade na década de 1930, e a cripta da Catedral da Sé.

“Muitas pessoas não fazem o tour achando que é muito tétrico, mas justamente por ser um tema pesado, procuramos decorar e nos fantasiar, além de contar algumas histórias divertidas, para dar leveza”, diz Angela. Tanto que, ao final do percurso, todos os membros recebem um brinde: sal grosso em uma garrafinha, onde se lê “Sai, zica!”

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