Temporais em São Paulo já assustaram até o padre jesuíta José de Anchieta

Desde que a cidade foi fundada, relatos sobre chuvas catastróficas somam-se aos registros históricos

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Por Edison Veiga
Atualização:
1918. Vista da Ponte do Gasômetro já destacava cheia Foto: AURÉLIO BECHERINI/AE

São Paulo: choveu, parou. Mas não é de hoje que é assim, ouve-se por aí a cada torrencial tempestade de verão. Neste caso, muito mais do que uma força de expressão. Desde que a cidade foi fundada, relatos sobre chuvas catastróficas somam-se aos registros históricos. Considerado um dos fundadores da cidade, o padre jesuíta José de Anchieta (1534-1597), hoje santo católico, relatou em cartas as consequências de fortes chuvas na então vila de Piratininga. “Com os trovões tremem as casas, caem as árvores e tudo se conturba”, escreveu em 31 de maio de 1560. “Não há muitos dias, estando em Piratininga, depois do pôr do sol, de repente começou a turvar-se o ar, a enevoar-se o céu, a amiudarem-se os trovões e os relâmpagos; o vento sul envolveu a terra até chegar ao nordeste, donde quase sempre costuma vir tempestade, ganhou tal violência que parecia o Senhor ameaçar com a destruição. Abalou casas, arrebatou telhados, derrubou matos, arrancou pelas raízes grandíssimas árvores, partiu ao meio ou destroçou outras, de maneira que nos matos se taparam caminhos sem ficar nenhum.”

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“Em meia hora (que não durou mais) é de espantar quanta devastação produziu em árvores e casas; e na verdade se Deus não abreviasse aquele tempo nada poderia resistir e tudo se arrasaria”, prosseguiu Anchieta. Na mesma carta, ele explicou que era “muito grande a abundância das chuvas”, na primavera e no verão. “Há então as enchentes dos rios e as grandes inundações dos campos”, registrou. 

As percepções histórico-pluviométricas não parariam por aí. Entre 1816 e 1822, o botânico, naturalista e viajante francês Augustin François César Prouvençal de Saint-Hilaire (1779-1853) fez duas expedições em São Paulo. Anos mais tarde, publicaria Viagem à Província de São Paulo. No livro, há 63 menções à chuva - e o verbo inundar e variações aparecem nove vezes. 

Saint-Hilaire observou que até a arquitetura paulistana da época era pensada pelas chuvas. “Os telhados não avançam desmesuradamente além das casas, mas têm bastante extensão para dar sombra e garantir as paredes contra as chuvas”, afirmou. O botânico ainda escreveu que “constitui um veradeiro suplício viajar pelo Brasil na época das chuvas”.

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