SP parece Jacarta e Lagos, diz Koolhaas

No Sesc, arquiteto holandês chama colegas brasileiros de ''heróis'' e lamenta fim do São Vito

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Por Flavia Tavares
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Uma gente bonita, jovem e descolada lotou o teatro do Sesc Pompeia, na zona oeste, ontem de manhã. Um segurança perguntou: "É evento cultural ou fashion week?". Eles estavam ali para ouvir o que o festejado arquiteto holandês Rem Koolhaas tinha a dizer. E ele defendeu a arquitetura crítica na palestra que ministrou em parceria com o Instituto Lina Bo e P.M. Bardi. Koolhaas é ganhador do prêmio Pritzker, mais importante reconhecimento na área, e referência mundial de urbanismo. Falou sobre o fato de que, desde que a economia de mercado se apossou do mundo, nos anos 1990, o arquiteto passou a ser um empreendedor de si mesmo e do setor privado. Afastou-se do domínio e do interesse públicos.Foi muito aplaudido quando contou à plateia que um de seus interesses pela arquitetura nasceu quando viu fotos de Brasília na revista Time, quando tinha 15 anos. Aliás, nesta visita ao País, foi conhecer a cidade que o inspirou tanto na adolescência. "Sou um intelectual. Não posso dar respostas sobre impressões", disse Koolhaas sobre a visita à capital federal, destino que pretendia voltar a visitar ainda ontem.A mesma resposta ele deu sobre o que achou de São Paulo. Não deu suas impressões, mas comentou que fica chocado com as semelhanças entre a cidade e outras metrópoles que visitou recentemente, como Jacarta, na Indonésia, Manila, nas Filipinas, e Lagos, na Nigéria. "Me impressiona que haja mais semelhanças que singularidades."Ele esteve aqui pela primeira vez em 1999, em uma preparação para o projeto artístico Arte/Cidade Zona Leste, que ocorreu em 2002. Na época, procurou alguma "intervenção arquitetônica" que pudesse fazer. Encantou-se com o Edifício São Vito, na Avenida do Estado. "Fiquei fascinado com o fato de as pessoas ainda viverem em um prédio daquele tamanho sem elevador."Foi para a Holanda e projetou um novo elevador para o prédio. "Quando o apresentei à cidade, fui informado de que o São Vito seria demolido", disse, contrariado. Ele não viu o que sobrou do treme-treme, talvez passasse ali em frente ontem. E não quis falar mais sobre o assunto.Atualmente, Koolhaas tem se distanciado das metrópoles. Seu olhar se voltou para o campo, para o rural. "As pessoas têm cada vez mais habitado o interior e a cidade, dividindo-se entre esses dois ambientes", explica, sobre suas primeiras conclusões. "Isso pode ser interessante, porque vai dar uma impressão de que cada lugar está um pouco menos habitado, saturado."Antes de se distanciar totalmente do urbano, porém, Koolhaas se empenhou na construção da sede da TV estatal chinesa, concluída em 2008. E foi cobrado por isso pelos alunos de arquitetura. "Como ser um arquiteto crítico e trabalhar com uma ditadura?", questionou um rapaz. "Estou otimista que fiz parte de um projeto de transformação da China", replicou o arquiteto holandês.Sobre sua participação em exposição que deve ocorrer entre setembro de 2012 e janeiro de 2013 na Casa de Vidro, projetada pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi no Morumbi, ele foi vago. Perguntado sobre a colega especificamente, emendou: "Arquitetos brasileiros são heróis. Quero contribuir para que o Brasil discuta seus heróis. É essencial ser crítico quanto aos arquitetos. Quero contribuir com uma nova liberdade."/ COLABOROU CAMILA MOLINAQUEM ÉREM KOOLHAASArquiteto holandêsNascido em Roterdã em 1944, formou-se arquiteto em Londres. Em 1975, fundou o OMA - escritório que assinou projetos como a Casa da Música, em Portugal. Em 2000, ganhou o prêmio Pritzker e, oito anos depois, foi incluído pela revista Time na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo.

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