SP lança projeto para resgatar fontes históricas

Obelisco ao lado da Estação Anhangabaú já foi recuperado em parceria com empresa; modelo será estendido a outras obras

PUBLICIDADE

Por Victor Vieira
Atualização:

SÃO PAULO - Pontos de encontro dos paulistanos no passado, as fontes de água da capital devem "ressuscitar". Com o apoio de empresas, a Prefeitura pretende reativar os chafarizes públicos. A largada para o projeto foi a entrega, ontem, do Obelisco do Largo da Memória recuperado, na região central, o monumento mais antigo da cidade. A data foi escolhida por ser o aniversário de 200 anos da obra, na escadaria da Rua Xavier de Toledo, perto da Estação Anhangabaú do Metrô. Naquela época, a bica de água do local servia para que moradores e viajantes abastecessem seus cantis. O hábito de se reunir nos chafarizes durou até meados do século 20. Depois, a maioria das fontes foi abandonada ou virou alvo de vandalismo.

Com 200 anos, momumento no centro é o mais antigo da capital Foto: Nilton Fukuda/Estadão

A festa do bicentenário tem ainda 56 apresentações artísticas no largo, de forró à música clássica, até o dia 2. Nos próximos dois anos, a Prefeitura promete religar a fonte, além de recuperar o painel de azulejos, reparar a iluminação e integrar a obra à estação de metrô.

A limpeza e a nova proteção química do Obelisco foram custeadas por uma empresa, parceira da administração municipal. Com o objetivo de usar menos verba pública e acelerar as ações, acordos com universidades e a iniciativa privada serão incentivados, modelo já usado nos últimos anos. A reativação das fontes será acompanhada de ações educativas e culturais sobre o patrimônio.

PUBLICIDADE

"Só o restauro não é suficiente. Pensamos na educação patrimonial para recuperar o envolvimento das pessoas com essas fontes", explica a chefe da Seção Técnica de Monumentos e Obras Artísticas da Secretaria Municipal de Cultura, Mariana Falqueiro, uma das coordenadoras do projeto. A proposta mira exemplos estrangeiros, como Roma e Buenos Aires, que também fazem bom proveito do potencial turístico das obras.

Os serviços regulares de manutenção e limpeza seguirão a cargo da Prefeitura. Em tempos de crise hídrica, os chafarizes usarão apenas água da chuva, armazenada em cisternas, para evitar desperdícios. No futuro, será estudada a possibilidade de usar água potável.

Nenhuma gota.

No inventário da secretaria, há 18 fontes registradas, a maioria no centro, em um total de 434 monumentos e obras artísticas catalogados. Dos chafarizes listados, apenas dois, ambos no Parque da Luz, não estão secos. Nos últimos anos, a maioria dessas fontes foi pichada ou virou banheiro improvisado de moradores de rua. Peças dos monumentos, de cobre ou outros metais, foram roubadas. Recentes recuperações desses locais, caras e bancadas pela Prefeitura, funcionaram por período curto e fracassaram depois.

Publicidade

Além do chafariz do Largo da Memória, a meta da Prefeitura é reativar outras duas fontes do centro até 2016. Uma delas é a da Praça Julio Mesquita e a outra é a Carlos Gomes, perto do Teatro Municipal. Para as obras, são necessários cerca de R$ 1,6 milhão.

No caso da fonte da Julio Mesquita, a demanda por reparos é pequena. Na última reforma, iniciada na gestão anterior e concluída só em 2013, foram postas redomas de vidro para proteger a obra. Parte dessas estruturas, porém, pode ser removida nessa nova fase. O projeto atual aposta que, com a apropriação dos chafarizes pelo público, a depredação será menor.

Se o modelo der certo, a ideia é replicar nas outras fontes. Além das 18 do acervo oficial, a pasta identificou nove chafarizes - e a pesquisa continua. Ainda não foi elaborado plano de vigilância dos guardas-civis metropolitanos para os monumentos, mas a expectativa é de que contribuam na preservação.

De olho.

Francisco Zorzetti, diretor da Companhia de Restauro, acredita que a educação é importante, mas tem efeitos mais lentos. Ele defende segurança reforçada. "Educar é uma saída para a preservação, mas é preciso proteger. Grades de vidro ou câmeras de vigilância, por exemplo, são ações que agridem menos

(o monumento)

", pondera.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.